A HISTÓRIA DE UM FOGARÉU
(Regina Maria Oliveira de Macedo)
Na época das festas Juninas é comum os donos
de fazendas organizarem festejos para celebrar e agradecer a boa colheita. A maior delas é a Festa de São João.
E foi assim que Dona Vitória e Seu Carlinhos prepararam uma festa de São João como poucos já viram no sertão.
E foi assim que Dona Vitória e Seu Carlinhos prepararam uma festa de São João como poucos já viram no sertão.
Para essa festa Dona Vitória preparou
muitas comidas gostosas: Canjica, cural, milho cozido, pamonha, arroz doce,
bolo de aipim, bolo de puba, bolo de milho, amendoim cozido, amendoim torrado e
até uma quantidade de carne foi bem temperado para ser assada na fogueira para
encerrar a festa.
O terreiro foi enfeitado no capricho
com as bandeirolas nas cores da sorte: branca, azul, verde, vermelho e amarelo.
Todas presas na cordinha nessa ordem porque elas também contavam a história da
plantação: O branco simbolizando o ar, o vento que espalha as sementes na
terra. O azul que simboliza a água que molha a terra e ajuda a semente
germinar, o verde que representa a plantação viçosa, resultado do ar e da chuva
sobre a terra adubada, o vermelho que representa o calor do sol que ajuda a
fabricação do alimento da planta e a amadurecer o fruto e o amarelo que
representa o fruto maduro.
Além das bandeirolas bem colocadas,
havia uma fogueira, bem grande, e bem bonita com a árvore de brindes colocada
lá no meio dos toros de madeira arrumados formando uma torre... Seria uma festa como poucas que ainda havia no sertão. Todo mundo
estava alegre e esperando a hora dela começar.
Seu Carlinhos convidou todos os
moradores da região, mas nesse dia também compareceu Walter Queiroz que era
amigo do dono do trio nordestino que iria tocar naquela noite.
Dona Vitória e as mulheres da fazenda
arrumaram a mesa, enfeitaram o salão com flores de manacá para perfumar o ambiente, balões e luminárias
coloridas. Tinha de tudo até flores feitas de papel crepom com uma sorte para quem escolhesse uma.
As visitas iam chegando, recebiam
refrigerantes ou licor. Passavam na mesa e se serviam do petisco que quisessem...
Até das laranjas enfeitadas com olhinhos, bocas e laços de fitas coloridos.
Tudo perfeito.
Seu Carlinhos estava que era uma
alegria só. Chamou Samuel e pediu:
─ Acende a fogueira, Samuel! Vamos
aquecer esse terreiro que o salão já está animado!
─ É prá já, Seu Carlinhos!
E disparou para pegar as cascas de
coco que tinha guardado e preparado para aquele momento, pois acender a
fogueira com cascas de coco era bem mais garantido.
Quando a labareda lambeu os troncos da
fogueira, Seu Carlinhos mandou o trio tocar:
─ Vamos lá, tocador! A fogueira já
está queimando. Alegra esse salão!
E o Trio começou sua canção:
A fogueira ta
queimando em[1]
homenagem a
São João.
O forró já
começou vamo gente
rapá pé nesse
salão. (2x)
Dança
Joaquim com Isabé, Luís
com Inhanha,
dança Janjão com
Raqué e eu
com Sinhá, traz a
cachaça Mané
eu quero vê, quero vâ paiá voar. (2x)
Walter Queiroz saiu do salão e foi se sentar na espreguiçadeira de lona que estava na varanda, para apreciar o fogo da fogueira. Já estava um fogaréu, bonito e gostoso de se olhar...
No
salão o baile seguia animado... E na animação o povo foi se apaixonando e o
cancioneiro lembrou-se de tocar uma moda para os enamorados:
Olha
pro céu, meu amor [2]
Vê
como ele está lindo
Olha
praquele balão multicor
Como
no céu vai sumindo
Foi numa noite, igual a esta
Que
tu me deste o coração
O
céu estava, assim em festa
Pois
era noite de São João
Havia balões no ar
Xote,
baião no salão
E
no terreiro
O
teu olhar, que incendiou
Meu
coração!
Ritinha,
uma cabrocha linda que estava na festa, quando escutou na música a frase "Havia balões no ar..." se lembrou do perigo dos balões. Saiu da festa
muito preocupada. Caminhou em direção da cerca, apanhou um capim, e ficou
cismada olhando o céu, cheia de preocupação.
Ela sabia que se um balão caísse na roça, o fogo ia tomar conta do mato seco e aí, adeus plantação. Ritinha esqueceu da festa e lá ficou, mastigando os talos das flores do capim bem na parte docinha (talos onde ficavam as sementes), cismada olhando o céu. Tinha que ficar de olho se não havia balão no ar.
Ela sabia que se um balão caísse na roça, o fogo ia tomar conta do mato seco e aí, adeus plantação. Ritinha esqueceu da festa e lá ficou, mastigando os talos das flores do capim bem na parte docinha (talos onde ficavam as sementes), cismada olhando o céu. Tinha que ficar de olho se não havia balão no ar.
Cecéu estava
apaixonado por Ritinha. Quando viu ela sair, foi atrás. Chamava a cabrocha, mas
ela nem escutou. Continuava cismada olhando o céu. Ela nem mesmo o viu. Foi aí que Ceceu teve a ideia
de tocar uma valsa para ela. De mansinho, pegou a sanfona e começou a cantar:
Ah! seria bom
Se eu pudesse contigo casar
Ah! seria bom
A minha vida ia modificar
Ah! seria bom
Mas não posso, sempre esperarei
Ah! O mundo é mal
E insiste em nos separar
Carinhos só pra você
Carinhos só para mim
A nossa vida seria
Um paraíso sem fim
Vivendo para o amor
Sem nunca ter que chorar
Ah! Seria bom
Se eu pudesse contigo casar
Ah! Seria bom
Se eu pudesse contigo casar
Ah! Seria bom
A minha vida ia modificar...
Com aquela valsa tão melancólica, aquele friozinho junino... Walter Queiroz foi adormecendo,
adormecendo e dormiu.
Quando acordou o baile já havia terminado e a criançada estava ao
pé da fogueira na maior algazarra torcendo para a árvore dos presentes cair.
Todos gritavam “Lá vem ela!”
A árvore dos presentes balançava à medida que os toros eram queimados e se mexiam entre as labaredas da fogueira. A qualquer momento iria despencar e todos avançariam para pegar um dos brindes que lá estavam pendurados.
A árvore dos presentes balançava à medida que os toros eram queimados e se mexiam entre as labaredas da fogueira. A qualquer momento iria despencar e todos avançariam para pegar um dos brindes que lá estavam pendurados.
Walter acordou assustado com o barulho lembrou do que tinha visto
entre Ritinha e Ceceu e sorrindo, falou:
Mas não é que essa história dá uma moda!
E aí ele começou a cantar uma música que todo mundo conhece e que o cantor Bel Marques da banda "Chiclete com Banana" canta tão bem:
Olha
o fogo[3]
Olha
o fogaréu
Queimando
as pontas
Da
palha do meu chapéu
Cade Ritinha que não vê Ceceu?
Ta
de capim na boca
Cismada
olhando o céu
E de mansinho a sanfona ele pegou
Cantando
me ninou
E
de mansinho a sanfona ele pegou
Cantando
me ninou
No São João do Carneirinho meu amor
Foi uma grande festa de São João aquela. E nenhum balão passou por ali. Balão? Só para enfeitar o salão da festa, nada de deixar-lo voar por aí.
Feliz São João, Pessoal!
Observação: Esta é uma história fictícia. Quando escolhi a letra dessa música de Walter Queiroz para trabalhar rima com meus alunos, achei que para haver uma melhor compreensão do que a música tratava era preciso uma história. Quando escutei a música fogaréu, lembrei de como eram as festas juninas de quando era criança e depois de quando era adolescente. Com essa história trabalhei a cultura das festas juninas das cidades do recôncavo baiano e também do interior.
Foi ótimo! As crianças ficaram bastante atentas.