sábado, 24 de março de 2012

FERNANDO RODRIGUES PROTÁSIO


PROTÁSIO

     Houve uma vez em que o dia não amanheceu nem um pouco bonito. Não porque Deus não o fizesse, como sempre, um dia bonito, mas porque nossos corações sentiam a saudade de um amigo que aceitou que estava na hora de ir se encontrar com o criador.

Sabemos que é o destino de todos nós, mas quem se conforma com essa viagem? Ainda mais quando se trata de alguém que tínhamos elegido como imortal[1].
É, não podíamos ser os mesmos. Naquele dia a Ilhade Itaparica teve mais uma grande perda. Fernando Rodrigues Protásio; singular porque foi único, porque fazia do extraordinário, o comum; pavio curto porque não admitia traições nem falsidades, nem coisas erradas.
Não foram poucas as vezes que o vimos discutir feio defendendo um amigo ou defendendo a Ilha de Itaparica. Poucos amam a ilha como ele a amou. E poucos são fiéis como ele o foi.
  
Raro era o dia em que não o víamos saltar da lancha, todo sorridente, brincando com um, com outro implicando com um ou com outro, mas levando a vida com alegria e gratidão a Deus e aos homens.

Jornalista amador fundou a Tribuna da Ilha. Nosso Primeiro jornal; como ex-atleta do Esporte Clube Vitória, apaixonado pelo mar, criou o clube de Saveiros e como folião criou a lavagem da praça dos pilantras para alegrar o carnaval; pois não se contentava em uma festa pequena em sua casa, Queria a ilha toda comemorando e sendo feliz.

Amante eterno de Vera Cruz pesquisava sua história e publicava-a na Tribuna da Ilha para que todos tomassem conhecimento e valorizassem essa terra. Quando questionávamos: “porque não escreves um livro? Ele dizia:  “A Tribuna é  meio de leitura a qual todos têm acesso e é de graça”. 
Assim era nosso amigo Protásio: Não esquecia ninguém. Tinha amigos para todas as horas e era amigo em todas as ocasiões. Solidário, companheiro, alegria e doçura infinita...

Nasceu no dia da Queda da Bastilha e em protesto morreu no dia 31 de março aniversário da revolução. Talvez chamando atenção de que está indo porque não tem jeito, porque é dever atender ao chamado de Deus e unir-se à Divina Luz.

Ok, Protásio, essa temos que deglutir com muita saudade. Esperamos que de onde esteja você não deixe de olhar para nós, e nem deixe de olhar para a ilha.
Daqui imaginam você sentado no jardim do éden, com uma agenda na mão, um divino chope gelado, tomando notas para publicar na Divina Tribuna e chamar atenção para o bem.

Você agora é Luz. Irá brilhar e fazer brilhar muitos corações.

Regina Macedo


[1] Na Ilha de Itaparica sua idade era um mistério e todos, após o Ex-Prefeito Nicandro brincar que ele tinha presenciado a chegada de Cabral ao Brasil, o qualificaram de imortal.

quinta-feira, 22 de março de 2012

O SOLDADINHO DE CHUMBO


O Soldadinho de Chumbo
Numa loja de brinquedos havia uma caixa de papelão com vinte e cinco soldadinhos de chumbo, todos iguaizinhos, pois haviam sido feitos com o mesmo molde. Apenas um deles era perneta: como fora o último a ser fundido, faltou chumbo para completar a outra perna. Mas o soldadinho perneta logo aprendeu a ficar em pé sobre a única perna e não fazia feio ao lado dos irmãos.

Esses soldadinhos de chumbo eram muito bonitos e elegantes, cada qual com seu fuzil ao ombro, a túnica escarlate, calça azul e uma bela pluma no chapéu. Além disso, tinham feições de soldados corajosos e cumpridores do dever.

Os valorosos soldadinhos de chumbo aguardavam o momento em que passariam a pertencer a algum menino. Chegou o dia em que a caixa foi dada de presente de aniversário a um garoto. Foi o presente de que ele mais gostou:

— Que lindos soldadinhos! — exclamou maravilhado.
E os colocou enfileirados sobre a mesa, ao lado dos outros brinquedos. O soldadinho de uma perna só era o último da fileira.

Ao lado do pelotão de chumbo se erguia um lindo castelo de papelão, um bosque de árvores verdinhas e, em frente, havia um pequeno lago feito de um pedaço de espelho.

A maior beleza, porém, era uma jovem que estava em pé na porta do castelo. Ela também era de papel, mas vestia uma saia de tule bem franzida e uma blusa bem justa. Seu lindo rostinho era emoldurado por longos cabelos negros, presos por uma tiara enfeitada com uma pequenina pedra azul.

A atraente jovem era uma bailarina, por isso mantinha os braços erguidos em arco sobre a cabeça. Com uma das pernas dobrada para trás, tão dobrada, mas tão dobrada, que acabava escondida pela saia de tule.

O soldadinho a olhou longamente e logo se apaixonou, e pensando que, tal como ele, aquela jovem tão linda tivesse uma perna só.

“Mas é claro que ela não vai me querer para marido”, pensou entristecido o soldadinho, suspirando.
“Tão elegante, tão bonita… Deve ser uma princesa. E eu? Nem cabo sou, vivo numa caixa de papelão, junto com meus vinte e quatro irmãos”.

À noite, antes de deitar, o menino guardou os soldadinhos na caixa, mas não percebeu que aquele de uma perna só caíra atrás de uma grande cigarreira.

Quando os ponteiros do relógio marcaram meia-noite, todos os brinquedos se animaram e começaram a aprontar mil e uma. Uma enorme bagunça!

As bonecas organizaram um baile, enquanto o giz da lousa desenhava bonequinhos nas paredes. Os soldadinhos de chumbo, fechados na caixa, golpeavam a tampa para sair e participar da festa, mas continuavam prisioneiros.

Mas o soldadinho de uma perna só e a bailarina não saíram do lugar em que haviam sido colocados.

Ele não conseguia parar de olhar aquela maravilhosa criatura. Queria ao menos tentar conhecê-la, para ficarem amigos.
De repente, se ergueu da cigarreira um homenzinho muito mal-encarado. Era um gênio ruim, que só vivia pensando em maldades.

Assim que ele apareceu, todos os brinquedos pararam amedrontados, pois já sabiam de quem se tratava.

O geniozinho olhou a sua volta e viu o soldadinho, deitado atrás da cigarreira.

— Ei, você aí, por que não está na caixa, com seus irmãos? — gritou o monstrinho.

Fingindo não escutar, o soldadinho continuou imóvel, sem desviar os olhos da bailarina.

— Amanhã vou dar um jeito em você, você vai ver! - gritou o geniozinho enfezado.

Depois disso, pulou de cabeça na cigarreira, levantando uma nuvem que fez todos espirrarem.

Na manhã seguinte, o menino tirou os soldadinhos de chumbo da caixa, recolheu aquele de uma perna só, que estava caído atrás da cigarreira, e os arrumou perto da janela. O soldadinho de uma perna só, como de costume, era o último da fila.

De repente, a janela se abriu, batendo fortemente as venezianas. Teria sido o vento, ou o geniozinho maldoso?
E o pobre soldadinho caiu de cabeça na rua.

O menino viu quando o brinquedo caiu pela janela e foi correndo procurá-lo na rua. Mas não o encontrou. Logo se consolou: afinal, tinha ainda os outros soldadinhos, e todos com duas pernas.

Para piorar a situação, caiu um verdadeiro temporal.
Quando a tempestade foi cessando, e o céu limpou um pouco, chegaram dois moleques. Eles se divertiam, pisando com os pés descalços nas poças de água.

Um deles viu o soldadinho de chumbo e exclamou:

— Olhe! Um soldadinho! Será que alguém jogou fora porque ele está quebrado?

— É, está um pouco amassado. Deve ter vindo com a enxurrada.

— Não, ele está só um pouco sujo.

— O que nós vamos fazer com um soldadinho só? Precisaríamos pelo menos meia dúzia, para organizar uma batalha.

— Sabe de uma coisa? — Disse o primeiro garoto. —Vamos colocá-lo num barco e mandá-lo dar a volta ao mundo.

E assim foi. Construíram um barquinho com uma folha de jornal, colocaram o soldadinho dentro dele e soltaram o barco para navegar na água que corria pela sarjeta.

Apoiado em sua única perna, com o fuzil ao ombro, o soldadinho de chumbo procurava manter o equilíbrio.

O barquinho dava saltos e esbarrões na água lamacenta, acompanhado pelos olhares dos dois moleques que, entusiasmados com a nova brincadeira, corriam pela calçada ao lado.

Lá pelas tantas, o barquinho foi jogado para dentro de um bueiro e continuou seu caminho, agora subterrâneo, em uma imensa escuridão. Com o coração batendo fortemente, o soldadinho voltava todos seus pensamentos para a bailarina, que talvez nunca mais pudesse ver.

De repente, viu chegar em sua direção um enorme rato de esgoto, olhos fosforescente e um horrível rabo fino e comprido, que foi logo perguntando:

— Você tem autorização para navegar? Então? Ande, mostre-a logo, sem discutir.

O soldadinho não respondeu, e o barquinho continuou seu incerto caminho, arrastado pela correnteza. Os gritos do rato do esgoto exigindo a autorização foram ficando cada vez mais distantes.

Enfim, o soldadinho viu ao longe uma luz, e respirou aliviado; aquela viagem no escuro não o agradava nem um pouco. Mal sabia ele que, infelizmente, seus problemas não haviam acabado.

A água do esgoto chegara a um rio, com um grande salto; rapidamente, as águas agitadas viraram o frágil barquinho de papel.

O barquinho virou, e o soldadinho de chumbo afundou.
Mal tinha chegado ao fundo, apareceu um enorme peixe que, abrindo a boca, engoliu-o.

O soldadinho se viu novamente numa imensa escuridão, espremido no estômago do peixe. E não deixava de pensar em sua amada: “O que estará fazendo agora sua linda bailarina? Será que ainda se lembra de mim?”.

E, se não fosse tão destemido, teria chorado lágrimas de chumbo, pois seu coração sofria de paixão.

Passou-se muito tempo — quem poderia dizer quanto?
E, de repente, a escuridão desapareceu e ele ouviu quando falavam:

— Olhe! O soldadinho de chumbo que caiu da janela!

Sabem o que aconteceu? O peixe havia sido fisgado por um pescador, levado ao mercado e vendido a uma cozinheira. E, por cúmulo da coincidência, não era qualquer cozinheira, mas sim a que trabalhava na casa do menino que ganhara o soldadinho no aniversário.

Ao limpar o peixe, a cozinheira encontrara dentro dele o soldadinho, do qual se lembrava muito bem, por causa daquela única perna.

Levou-o para o garotinho, que fez a maior festa ao revê-lo. Lavou-o com água e sabão, para tirar o fedor de peixe, e endireitou a ponta do fuzil, que amassara um pouco durante aquela aventura.

Limpinho e lustroso, o soldadinho foi colocado sobre a mesma mesa em que estava antes de voar pela janela. Nada estava mudado. O castelo de papel, o pequeno bosque de árvores muito verdes, o lago reluzente feito de espelho. E, na porta do castelo, lá estava ela, a bailarina: sobre uma perna só, com os braços erguidos acima da cabeça, mais bela do que nunca.

O soldadinho olhou para a bailarina, ainda mais apaixonado, ela olhou para ele, mas não trocaram palavra alguma. Ele desejava conversar, mas não ousava. Sentia-se feliz apenas por estar novamente perto dela e poder amá-la.

Se pudesse, ele contaria toda sua aventura; com certeza a linda bailarina iria apreciar sua coragem. Quem sabe, até se casaria com ele…

Enquanto o soldadinho pensava em tudo isso, o garotinho brincava tranqüilo com o pião.

De repente como foi, como não foi — é caso de se pensar se o geniozinho ruim da cigarreira não metera seu nariz —, o garotinho agarrou o soldadinho de chumbo e atirou-o na lareira, onde o fogo ardia intensamente.

O pobre soldadinho viu a luz intensa e sentiu um forte calor. A única perna estava amolecendo e a ponta do fuzil envergava para o lado. As belas cores do uniforme, o vermelho escarlate da túnica e o azul da calça perdiam suas tonalidades.

O soldadinho lançou um último olhar para a bailarina, que retribuiu com silêncio e tristeza. Ele sentiu então que seu coração de chumbo começava a derreter — não só pelo calor, mas principalmente pelo amor que ardia nele.

Naquele momento, a porta escancarou-se com violência, e uma rajada de vento fez voar a bailarina de papel diretamente para a lareira, bem junto ao soldadinho. Bastou uma labareda e ela desapareceu. O soldadinho também se dissolveu completamente.

No dia seguinte. a arrumadeira, ao limpar a lareira, encontrou no meio das cinzas um pequenino coração de chumbo: era tudo que restara do soldadinho, fiel até o último instante ao seu grande amor.

Da pequena bailarina de papel só restou a minúscula pedra azul da tiara, que antes brilhava em seus longos cabelos negros.

Fonte: Texto extraído da internet, capturado em 20 de agosto de 2010, site Que Divertido.
Endereço:  http://www.qdivertido.com.br/verconto.php?codigo=5


domingo, 18 de março de 2012

SÁ MARIQUINHA

Quando era criança escutava minha mãe cantando essa canção nas noites estreladas do verão quando passávamos férias em Caldas do Jorro. Achava linda! Hoje, procurando a letra da música na internet, encontrei uma letra atribuída a Dominguinhos. É muito parecida com a que minha mãe cantava, mas tem algumas diferenças. Fico me perguntando se, quando minha mãe era jóvem essa canção tinha a letra diferente.
Observem as duas letras.
Deixo registrado que minha mãe não escreveu essa letra de música não. Ela cantava assim para nós. Éramos crianças e não sei quem era o autor. Apenas fiquei curiosa com a diferença e semelhanças nas duas letra.
Para escutar a música, acessem o endereço:
Sá Maroquinha

Há saudades que se sente das coisas da vida que já se gozou
Faz inté a relembrar as coisas vividas nos tempos do amor
Quanto mais passado o tempo,
Mais o amor aumenta,
Mais saudade vem,
Mode a gente arrelembrar,
Dos amor querido que a gente quis bem.
Siá Mariquinha, Maroquinhazinha,tinha
Uma velha casinha
Dos tempos do amor
Mas a ventania
Por ribar da serra
Pegou a casinha e escangalhou.

Ai, ai Samaroquinha isto não é brinquedo
Me diga se saudade mata
Se saudade mata
Eu já estou com medo

Minha pobre Maroquinha sua casinha tinha
Um pé de jatobá
Onde a sabiá dormia
Toda noite fria
Prá mode cantar
E o riacho lá da serra
Que vinha por terra
ribeirando a porta
Ai! Quanta saudade morta!
Isto não tem jeito,
O jeito é calar

Ai, ai Samaroquinha isto não é brinquedo
Me diga se saudade mata
Se saudade mata
Eu já estou com medo

Siá Mariquinha
A saudade que se guarda das coisas da vida,
Que a gente gozou,
Pode inté se arrelembrar,
Tantas coisas velhas que já se passou,
Quanto mais passado o tempo,
Mais o amor aumenta,
Mais saudade vem,
Mode a gente arrelembrar,
Dos amor querido que a gente quis bem.
Siá Mariquinha, Maroquinhazinha,
Sua velha casinha nos tempos de amor,
E a ventania de riba da serra,
Pegou a casinha e escangalhou.
Ai, ai, Siá Mariquinha, isto não é brinquedo,
Me diga se a saudade mata,
Se a saudade mata,
Qu´eu já to com medo.
Minha pobre Mariquinha,
Sua casinha tinha, um pé de jatobá,
Onde toda tarde fria sabiá subia,
Pru mode cantar,
E o riacho lá da serra,
Que vinha por terra,
Rodiando a volta,
Ah,quanta saudade morta,
Ninguém dá jeito,
O jeito é cantar.
Siá Mariquinha, Maroquinhazinha,
Sua velha casinha,
Dos tempos de amor,
E a ventania de riba da serra,
Pegou a casinha e escangalhou.
Ai, ai, Siá Mariquinha, isto não é brinquedo,
Me diga se a saudade mata, se a saudade mata,
Qu'eu já to com medo.

sábado, 17 de março de 2012

A VENDEDORA DE FÓSFOROS


A VENDEDORA DE FÓSFOROS

(Adaptação do conto de Hans Christian Andersen por Regina Maria Oliveira de Macedo)



Há muitos e muitos anos atrás, em um País chamado Dinamarca, na cidade de Copenhague, vivia uma linda menina muito pobre que ganhava a vida a vender fósforos.

Essa menina tinha perdido a mãe e o pai em um acidente de trabalho e morava sozinha na casa, sem ninguém para cuidar dela.

Quando chega dezembro, na Dinamarca o frio é muito forte e, na época em que a vendedora de fósforos viveu o frio era mais forte ainda e nevava muito.

Em 1840 quando esta história aconteceu, todos os lugares da cidade de Copenhague estavam cobertos por uma camada fina de gelo e o chão cheio de neve fofa e brilhante. Do céu caiam flocos de neve dando uma visão de encantamento à cidade; mas embora fosse isto muito bonito para quem morava em uma casa quentinha, para a pequena vendedora de fósforos era uma época muito dolorosa, pois não tinha como se aquecer.

Era véspera de Natal e justamente por causa do frio, ela dormiu um pouco demais. Nem lembra como conseguiu acordar. Quando saiu para vender os fósforos as ruas da cidade já estavam praticamente vazias de pessoas.

A menina saiu mercando:

— “Fósforos longos, práticos e de fácil combustão! Comprem, comprem para acender as velas de Natal”!

Mas as pessoas estavam apressadas para chegarem à casa e não prestavam atenção à pequena.

Por mais que ela gritasse, ninguém a escutava. Em pouco tempo as lojas começaram a fechar suas portas e a menina ficava cada vez mais aflita, pois logo não teria a quem vender seus fósforos e não teria dinheiro para comprar sequer um pão dormido para enganar a fome.

Caminhando pelas ruas ela olhava as vitrines das lojas e pensava:

— “Quanta coisa linda, Meu Deus”! “Quem dera eu ter ao menos uma pequena boneca”...!

As ruas esvaziaram. Não havia mais ninguém. A menina perambulou pelas ruas onde havia apenas casas e olhou pelas vidraças as famílias reunidas em volta de arvores de natal, sentadas à mesa... Os cheiros das comidas chegavam até ela e a fome ficava mais e mais forte.

A menina resolveu voltar para a rua das lojas e olhar as vitrines. Ali não teria cheiro de comidas para lembrá-la que não tinha comido nada e ela se distrairia olhando as decorações e os brinquedos. E assim ficou por um tempo até que o frio ficou insuportável.

 A menina resolveu acender um fósforo. Uma pequena chama quente e luminosa brilhou. Para ela foi como se de repente estivesse junto a um fogão quentinho. Pegou outro fósforo e acendeu-o também. Diante dela apareceu uma mesa posta com porcelanas finas e as mais deliciosas iguarias exalando um cheiro delicioso. Ela estendeu as mãos para pegar, mas o fósforo apagou-se e tudo desapareceu na fumaça. Só a neve continuava a cair e o frio cortante penetrando-lhe na alma. Ela acendeu um terceiro fósforo e pareceu estar embaixo de uma enorme árvore de Natal onde enormes bolas coloridas e velinhas brilhavam. De repente a chama do fósforo tremeu, o fósforo apagou e tudo desapareceu... Nesse momento a menina sentiu um sono incontrolável e ali mesmo, sentada no chão da entrada da loja, recostada à enorme porta de madeira adormeceu pálida de frio.

Nesse momento passava pela rua uma linda senhora em uma pequena carruagem branca com detalhes de madeira escura como o ébano, parecida com um Tilbury particular com uma capota para proteger do frio. A senhora estava acomodada sobre a capota, envolta em um casaco macio e bem quentinho, olhando as vitrines das lojas que passavam rápidas com um semblante bastante triste, melancólico.

A bela senhora era muito solitária e desejava muito ter com quem repartir todo o conforto da sua casa e todo o amor que trazia em seu coração. Queria também sentir-se amada. Esse foi seu pedido ao Menino Deus naquele dia: alguém para amar e ser amada.

Estava fazendo uma prece silenciosa a Deus para ratificar seu pedido quando seu “tilbury” passou em frente à loja onde a menina estava encolhida no canto da porta. Uma chama aqueceu seu coração e a rica senhora quase que gritou pedindo ao cocheiro para parar:

— “Pare, pare Jonathan”!

O cocheiro quase que vira o carro dado à violência com que puxou as rédeas dos cavalos.

D. Elga saiu correndo do carro em direção à porta da loja. A pequenina estava fria, seus finos lábios arroxeados e os palitos de fósforos todos espalhados em volta da menina.

Jonathan veio em seguida e vendo a criança perguntou:

— “Está viva, madame”?

— “Sim, Jonathan, está. Sua respiração está débil, mas acho que chegamos a tempo”.

D. Elga tirou seu rico e quente casaco e envolveu a criança.

— “Vamos rápido Jonathan, vamos rápido! Acredito que uma bebida quente perto da lareira deverá reanimá-la. Vamos depressa para casa”!

O tilbury pareceu voar pelas ruas. Chegando a casa, D. Elga acomodou a pequena junto ao fogo quentinho da lareira e mandou vir um caldo quente da cozinha. Com muito carinho e cuidado D. Elga a fez tomar as primeiras colheres do delicioso caldo. Aos poucos a pequena abriu os olhos. Quando acordou estava envolta em um casaco macio e quentinho no colo de uma bela senhora que a espiava com olhos cheios de amor.

A menina sorriu e carinhosamente estendeu seus bracinhos e envolveu o pescoço de D. Elga num abraço bem apertado repleto de gratidão.

Naquele Natal a vendedora de fósforo, que se chamava Moira, encontrou uma nova família e o lar de D. Elga encheu-se de canto, encanto e muita luz. Nunca mais ela se sentiu só.

Foi o começo de muitos Natais felizes.

UM DRAGÃO CHAMADO BICHO ALFABETO



Texto inspirado a partir da poesia O Bicho Alfabeto da professora Priscila Ramos de Azevedo.

Era uma vez um dragão que nasceu bem diferente dos outros dragões. Ele tinha o corpo parecido com o de uma centopeia, asas para voar e tudo o mais que um dragão tinha, mas no lugar de pés, ou patas, ele tinha letras.
 

Eram 26 letrinhas bem feitinhas, mas por não serem todas iguais, os outros dragões se admiravam e o olhavam com espanto.


O Dragão ficou tão incomodado com aquilo que resolveu ir morar em uma caverna no monte mais alto da Região e de lá ele olhava o vale formado pela montanha, cheio de saudade de correr pelo gramado e de mergulhar no rio.

Um dia em que estava entediado começou a bater uma das suas patas (ou letras?) no chão da entrada da caverna.

De repente ele observou que saia um som:  a a a... E observou que para cada som uma marca ele deixava no chão. O dragão então descobriu que quando ele batia as patas, além de marcas ele fazia diferentes sons.

Então ele quis investigar esses sons. Saiu da caverna e foi para o sol. Ao olhar seu corpo percebeu que estava tanto tempo triste dentro da caverna que estava todo empoeirado. 
lembrou que não se banhava há algum tempo. Deu uma bela sacudida no corpo e todas as patas bateram no chão. Percebeu que mais sons saiam de suas patas.
 
Curioso, ele bateu uma por uma no chão. Viu que umas tinham um som mais forte e outras um som mais fraco e que as patinhas que faziam o som mais fraco ao serem batidas junto com outra que tinham um som mais forte faziam um som diferente. E percebeu que algumas tinham sons parecidos e outras mudavam de som de acordo com sua posição junto a outras patas de formatos diferentes.


Curioso ele começou a experimentar os sons. Assim como o músico quando inventou a primeira flauta. O Dragão foi batendo as patinhas no chão e escutando. Conseguiu formar a palavra AMOR. Ele se sentiu muito bem ao ouvir o som da palavra amor. Parou e pensou:

- Se eu posso fazer esse som tão bonito, é porque tenho amor dentro de mim. Ah! Se tenho amor... Amor é para ser dado e ser recebido.

Ele bateu suas asas e voou para o vale. Rolou na grama, sentiu o cheiro das flores e mergulhou no rio. Depois ele se deitou ao sol e olhou o céu tão azul...


E o bicho começou a fazer uma dança, cheio de alegria. E descobriu que seus pés na verdade eram as letras do alfabeto e que, conforme ele dançava, se formavam e cantavam letras, palavras, frases, poemas, letras de músicas...


Aí ele resolveu ir para a sala de aula. A professora Priscila o chamou de Alfabeto e fez uma poesia para ele.


Até hoje o Bicho alfabeto passeia pelo mundo visitando as escolas e por onde ele passa nascem palavras que formam poesias, canções e belos textos que nos contam histórias maravilhosas do mundo.


Regina Maria Oliveira de Macedo


A ESCOLA TRISTONHA


A ESCOLA TRISTONHA

(Regina Maria Oliveira de Macedo)





Era um dia de sexta feira e nesse dia a professora Regina costumava contar histórias para as crianças. Muitas dessas histórias eram de sua própria autoria...

Como estava próximo ao dia 15 de março, ela resolveu contar uma história sobre escola. Começou assim...



Em uma colina muito bonita foi construída uma escola. Era a escola mais bonita que já se viu. A escola era tão bonita que quando chegava uma visita importante na cidade, o Prefeito lembrava-se de ir até lá mostrar ao visitante a obra que ele considerava mais importante do seu governo.



A escola tinha paredes muito bem construídas e uma pintura muito linda e alegre. Tinha imensos jardins bem planejados para as crianças olhar as flores e sentir seu perfume suave, tinha um parque de diversão com os brinquedos mais bonitos e maravilhosos para as brincadeiras mais divertidas: Escorregadores, gira-giras, gangorras, vai-e-vens, cavalinhos, tanques de areia bem branquinha e soltinha, pistas de corridas e carrinhos de pedal, Brinquedos para escaladas, castelos, casinhas de bonecas, mesa de atividades com água... Tantos brinquedos no parque que nenhuma criança ficaria sem se divertir. Imaginem, a escola tinha até tanques de areia e água com guarda sol!...



E a escola tinha refeitório, salas de aulas amplas e claras com janelas que davam para uma vista linda de um jardim... Nenhuma das salas eram quentes ou frias demais; todas tinham um frescor gostoso porque o arquiteto tinha projetado um telhado que dava entrada ao vento de forma que a ventilação ficasse deliciosa...



Ah, nas salas tinham carteiras e cadeiras coloridas e confortáveis que facilitavam o trabalho em gupo, em círculo, em fila, do jeito que se quisesse... Tinha lousa interativa no lugar de quadro de giz e os professores e professoras podiam ensinar às crianças brincando naquela enorme tela divertida...



Tinha também um sistema de som que tocava músicas calmas em cada uma das salas e as professoras podiam controlar o som da forma que melhor ajudasse na sua aula: ou silencioso, ou baixinho como se fosse um fundo musical para suas palavras, ou deixá-lo mais alto, mas nada que incomodasse ninguém.



E a escola tinha livros de histórias nas estantes coloridas que ficavam à altura das mãos das crianças, tinha teatro de fantoches e fantoches, tinha fantasias para peças de teatro, muitos lápis coloridos, papéis, cadernos, um cantinho de leitura muito gostoso onde as crianças ficavam da forma que quisessem, em fim, a escola tinha o que se pudesse pensar para acontecer aulas interessantes, alegres e eficientes. Mas a Escola vivia só suspirando... É que faltava alguma coisa na escola... O que será? O que será que faltava naquela escola?



Bem... Vamos pensar um pouco...



Bruno foi o primeiro a se manifestar:



— Ah, já sei! A escola não tinha computador! — Exclamou Bruno achando que havia descoberto o segredo que deixava a escola triste.

— hãn, hãn... A escola tinha os melhores computadores que você já viu, com acesso a internet e também uma "cdteca" com muitos jogos educativos. — Explicou a professora.



Islei, que gosta muito de cinema, que era um verdadeiro cinéfilo deu seu palpite:

— Eu sei. A escola não tinha cinema.

Mais ele errou também, pois a escola tinha um auditório maravilhoso com um palco que servia para exibir filmes e também fazer apresentações de teatro e as cadeiras do auditório eram maravilhosas e também tinha espaço para as crianças que precisavam ficar em cadeiras de rodas e até mesmo para as que precisavam ficar deitadas.



Samuel que gostava muito das aulas de natação arriscou:

— Eu já sei professora: A Escola não tinha piscina.

E a professora disse que a escola tinha piscina sim e tinha também um ginásio de esportes maravilhoso.



Bárbara arriscou:

— A Escola não tinha sala de música!

— Tinha sim, Bárbara... Eu já disse que a escola tinha tudo o que se possa imaginar para que os estudantes e professores pudessem participar de aulas maravilhosas e aprender com alegria. A escola tinha jardins, hortas, pomar e até mesmo animaizinhos como boi, cavalo, ovinos, aves... nossa! A Escola tinha tudo. Tinha diretor, professor, auxiliares administrativos, merendeiras, zeladoras e zeladores, porteiros, vigilantes...



— E a escola tinha refeitório?— Perguntou Lara achando que tinha descoberto a chave do mistério, mas a professora disse que sim, que a escola tinha tudo e continuou sua história...



Ninguém sabia dizer, mas a escola era tristonha. Vivia o tempo todo a suspirar... Por que será que tendo tudo, a escola era tristonha?



Faltava uma coisa muito importante... O que será de tão importante que está faltando para a escola ser feliz?



A diretora da escola caminhava pelos corredores, examinava as salas, os banheiros, os parques, a biblioteca, a "cdteca", a videoteca, o cinema, o ginásio de esportes, escutava as belas canções que saiam das caixas de som e não conseguia perceber o que estava faltando... E o pior, na comunidade que ficava perto da colina onde a escola foi construída, as pessoas já estavam chamando a escola de Museu Escola.



— MUSEU ESCOLA!!?? Ah, não! Disse a escola na sua linguagem de prédio escolar, mas ninguém escutou o seu espanto.



— Falta algo muito importante nessa escola... Mais o que será? — Perguntava-se a diretora intrigada. Foi aí que o telefone tocou. Quando a diretora atendeu era o Prefeito avisando que no dia 15 de março ele iria levar uma comitiva do Governo que viria conhecer a escola.

— Oh! Será um prazer excelência. A escola estará impecável!

E foi aí que o prefeito disse uma coisa:

— É claro que sua escola estará impecável, todo mundo na comunidade chama sua escola de Museu Escola.

— Como? — Indagou a diretora toda surpresa e o prefeito explicou:



— Sua escola é tão impecável que todos dizem que é uma escola apenas para ser mostrada. Uma escola amostra do que deve ter em uma escola, mas falta o principal. Nunca será uma escola sem esse principal. Diretora, o coração da sua escola não está batendo. O que está acontecendo? O que está faltando para sua escola ser uma escola? A senhora ainda não percebeu? Acorda, diretora!



(E aí crianças, o que está faltando na escola?)



Depois que desligou o telefone a diretora começou a pensar: Esta Escola tem bons recursos físicos... Tem bons recursos materiais de capital e de materiais de consumo... Tem bons recursos humannnooos... HUMANOS! Já sei! Já sei o que falta na escola para que ela seja A ESCOLA.



Saiu correndo em direção ao estúdio de rádio da escola, pegou o microfone e convocou todos os profissionais para uma reunião urgente.



— Atenção! Atenção! Todos os profissionais, reunião urgente na sala de AC. Aguardo todos vocês agora, nesse exato momento!



Quando todos chegaram à sala de AC,  sentaram-se à Távola Redonda (era assim que os professores chamavam aquela enorme mesa de reuniões). A Távola Redonda parecia uma enorme roda sem os aros. Os profissionais sentavam-se à sua volta e a diretora ia para o centro da roda para falar.

— Meus queridos colegas de trabalho. Cometemos um erro enorme.

— Um erro? Como assim? Que erro?

— Vocês não sentem que essa escola não é uma escola?

Todo mundo parou para pensar. Foi um silêncio enorme... A diretora aproveitou e perguntou:

— O que vocês estão escutando? Parem, prestem atenção; o que vocês estão escutando?

O silêncio era total. E a diretora explicou:

— Vocês estão escutando o nada... O silêncio... É isto que está faltando à nossa escola para que ela seja escola, vocês estão escutando a ausência do que falta à nossa escola para que ela seja escola e não um museu.

Os professores se assustaram e disseram cada um a sua vez e ao mesmo tempo, talvez?

— Está faltando o som das crianças! Meu Deus! Cadê as crianças?

E foi um tal de procurar as crianças, um tal de zum, zum, zum tão grande...! E foi aí que tudo se explicou e a diretora refletiu:



— Uma escola para ser Escola tem que ter estudantes! Tem que ter crianças! Tem que ter adolescentes! Tem que ter educandos... Onde estão os educandos? Por que não estão aqui?



E a diretora gemeu:



— Não estão aqui porque nos preocupamos tanto com arrumação, limpeza e tantas outras burocracias que nos esquecemos de fazer a MATRICULA! E agora? No dia 15 de março que é o dia da escola, virá uma comitiva do Governo nos visitar. Como receber essa comitiva sem a alma da escola? Sem os estudantes?



O Professor Ricardo deu a ideia de procurar o Radio da Comunidade para pedir ajuda. A diretora foi até lá, explicou que precisava chamar os pais para fazerem a matrícula das crianças. O locutor do rádio colocou o microfone à disposição da Diretora e naquele mesmo dia os pais foram à escola com suas crianças para fazerem a matrícula.

A Escola Tristonha já nem mais tinha forças para sorrir quando o primeiro pezinho de estudante pisou à grama do jardim. Ela sentiu um calorzinho voltando a seu corpo. As cores que estavam começando a desaparecer de suas paredes reacenderam e a Escola abriu os olhos e viu adentrar por seus portões os estudantes. Foi uma alegria!

Quando a comitiva do Governo chegou, a Escola Tristonha era a escola mais feliz e mais bonita do mundo, porque para ser realmente uma escola é preciso ter os estudantes.

— Os estudantes, Pró?

— É Carlinhos, os estudantes. Escola sem estudantes não é escola, pois a razão de haver professores e escola é porque tem alguém querendo aprender. E olhe, Crianças, estou falando de estudantes e não de baderneiros entenderam?

Nunca mais alguém se referiu à Escola como Museu Escola. Ela passou a ser chamada pelo seu verdadeiro nome: A Escola da Colina Feliz.