quinta-feira, 23 de agosto de 2012

BOI BUMBÁ


A Lenda da encarnação do Boi Bumbá
(Por Regina Maria Oliveira de Macedo)

Há muito tempo atrás, na época da escravidão, em uma fazenda na Região do Rio São Francisco, havia um fazendeiro muito poderoso que tinha um boi vindo do Egito do qual gostava muito. Ele batizou o boi com o nome de Bubar.
Nessa fazenda havia um casal de escravos conhecido por todos como Pai Francisco e Mãe Catrina. Os dois eram muito queridos por todos, pois sempre estavam ajudando com suas rezas e remédios naturais todos que viviam na fazenda do Senhor João.
Aconteceu que Mãe Catrina ficou grávida. Pai Francisco estava muito contente com a notícia de que ia ter um filho sangue de seu sangue, mas aí aconteceu algo que é comum nas mulheres grávidas: O tal do desejo.
O desejo acontece sempre que o bebê necessita de uma determinada substância para seu desenvolvimento e então o organismo da mãe faz com que sinta o desejo de comer o alimento que tem a substância que o bebê precisa. Daí o desejo o dizer que se a mulher grávida não for atendida em seu desejo o bebê nasce fraco.
Pois é, Mãe Catrina teve desejo de comer língua de boi... Embora morasse em uma fazenda que tinha muitos bois, nenhum era deles. É certo que sempre o Senhor João mandava matar um boi, mas isso não ia acontecer tão cedo por ali, pois Seu João fazia tempos que estava na cidade com a mulher e os filhos e não apareciam na fazenda.  
Mãe Catrina sofria com o desejo e Pai Francisco sofria junto com ela...
Uma noite Mãe Catrina estava à janela apreciando a imensidão da fazenda sob a luz da lua, quando passou perto da sua casa justamente o Boi que tinha vindo do Egito. Era um boi gordo, grande, bonito que só ele. Mãe Catrina não tirava os olhos do Boi. Pai Francisco ficou penalizado de ver o olhar comprido e cheio de desejos da mulher. Não se aguentou; afinal era seu filho que estava pra chegar ao mundo e ele tinha que vim em paz e com saúde. Matou o boi sem nem prestar atenção que era o boi predileto do patrão. Cozinhou a língua, deu para a mulher que comeu com toda satisfação. Quando Catrina terminou de comer, Pai Francisco pegou o boi, tirou o couro, tirou a carne e repartiu com os outros escravos.
Um dos escravos ficou sem a carne pois não estava na fazenda naquele dia. Quando soube da partilha ficou  chateado e cheio de despeito...
O tempo passou; ninguém mais falava do acontecido. Até que um dia o Senhor João voltou à fazenda. Estava doido para vê seu boi. Como já era noite, combinou com os vaqueiros que no dia seguinte, logo cedo eles iriam reunir o gado para a contagem e pesagem do gado.
Os vaqueiros avisaram Pai Francisco da chegada do patrão e da intensão de reunir o gado para contagem e pesagem. Contou que o patrão estava doido para vê o boi.
Pai Francisco chamou mãe Catrina e combinaram de fugir.
Na manhã seguinte, como tinha sido acertado com o patrão, os vaqueiros reuniu o gado. O patrão chegou para a contagem e logo de imediato sentiu a falta do seu boi predileto.
− Cadê o egípcio? – Perguntou o patrão com ar preocupado.
− Que Egípcio, Patrão – Perguntou o vaqueiro desconfiado.
− Que egípcio? Como assim que Egípcio? O boi Bumbar, homem! Cadê o Boi Bumbar?
O vaqueiro respondeu de pronto:
− Sei não patrão. Tem tempo que ele tá sumido, acho que foi roubado.
Acontece que o outro vaqueiro que estava na contagem era justo aquele que não tinha recebido o pedaço de carne do boi. Nesse momento ele sentiu que seria vingado...
− Sumiu não, patrão; ele foi roubado! Ah, isso foi mesmo... Foi roubado e morto por Pai Francisco, aquele desgramado!
O patrão se revoltou. Aos berros correu para a cabana de Pai Francisco e Mãe Catrina que a essas horas já tinham fugido, logo depois que soube da chegada do patrão e da sua intensão de ver o boi.
O Patrão correu ao quintal da casa e encontrou lá na armação o couro do boi, o chifre, o esqueleto e o rabo. Começou a chorar. Inconsolável e enlouquecido de tristeza reuniu o que restou do boi, levou para seu terreiro, cobriu com o couro pediu ajuda aos outros curandeiros da região, aos padres a todos que mexiam com as forças da natureza e com Deus, para que fizessem seu boi viver novamente. Chorando dizia:
− Quero meu boi Bumbar de volta... Quero o Bumbar vivoooo...
E o tempo passou... Não havia um dia que o patrão não chorasse pelo seu boi... A notícia começou a correr o mundo e chegou até a cidade onde Mãe Catrina e Pai Francisco foram morar. A essa altura o filho dos dois já havia nascido e já estava bem grandinho. Na verdade já era um rapaz muito especial:
O Filho de Mãe Catrina e Pai Francisco tinha o dom de mexer com as forças da natureza e curar pessoas e animais.

Ele tinha ido à venda comprar farinha quando escutou a história do fazendeiro que chorava, há muito tempo, a morte do Boi.
Quando escutou a história do fazendeiro que chorava por causa de seu boi, quis ir até a fazenda. Ao chegar a casa contou o caso para os pais e disse das suas intensões.
Mãe Catrina e Pai Francisco ficaram com receio e contou ao filho o que tinha acontecido quando ele estava dentro da barriga da mãe. Pai Francisco e mãe Catrina disseram que estavam arrependidos, mas temiam pela vida dele.
O rapaz bateu pé firme:
− Agora que sei disso, mais do que nunca temos que voltar para a fazenda.
− Mas, meu filho ele não irá nos perdoar... Disse Mãe Catrina temerosa.
− Isso agente só vai saber quando chegar lá. E já está mais do que na hora de agente voltar. O viajante contou que inté hoje o homem tem a carcaça do boi no terreiro e fica lá sentado na varanda da casa chorando...
Pai Francisco e Mãe Catrina ficaram penalizados com a notícia. De imediato concordaram com o filho e os três voltaram para a fazenda.
O patrão estava bem diferente de quando Pai Francisco e Mãe Catrina moravam lá. Estava magro, pálido e ainda chorando a morte do boi. Ele nem teve forças para brigar com o casal.
O rapaz olhou em volta e viu no meio do terreiro o couro do boi sobre a carcaça e o rabo balançando ao vento, tal qual o viajante descreveu. Aproximou-se do que restou do animal, pegou o rabo, olhou dentro, levou-o à boca e sobrou três vezes. A cada sopro o couro se juntava à carcaça... No terceiro o boi encarnou novamente e saiu pulando e chifrando o que encontrava pela frente, todo assustado.
Quando o patrão viu seu boi vivinho de novo, perdoou Pai Francisco e Mãe Catrina que voltaram a viver na fazenda junto com o filho curandeiro.
Naquele dia houve uma grande festa na fazenda e a partir daquela data, todos os anos se comemoravam a festa do Boi Bumbar.






terça-feira, 21 de agosto de 2012

A LENDA DO UIRAPURU


A Lenda do Uirapuru
(Por Regina Maria Oliveira de Macedo)

Em uma tribo da Floresta Amazônica houve um cacique muito bonito que ainda estava solteiro. Acontecia que ele não tinha certeza com quem deveria casar. Ele gostava de duas índias muito bonitas uma se chamava Uirapuru a outra nunca soube como se chamava talvez se chamasse Jacira, ou Juçara. Vou chamá-la de Juçara...
Uirapuru era uma jovem alegre, afetuosa, otimista, criativa e muito comunicativa. Onde ela estava todos ficavam alegres e por isso mesmo todos gostavam muito dela. Ela também gostava muito de cantar e sempre que tinha alguma festa na aldeia ela cantava para alegrar a todos. Sua voz era muito bonita.
Juçara era mais calma, gostava de ficar junto das mulheres mais velhas, escutar suas histórias tinha uma fome de conhecimento e por isso estava sempre fazendo perguntas e tentando entender as coisas que aconteciam à sua volta. Era também muito bonita, bondosa e muito caprichosa nas coisas que fazia: colares, cerâmicas, comidas...
O cacique observava as duas e via que em cada uma tinha algo que era muito importante para a esposa de um cacique. Qualquer uma das duas o faria muito feliz. Se pudesse escolher casaria com as duas pois uma completava a outra, mas ele só poderia casar com uma e assim o tempo ia passando e ele continuava solteiro e indeciso.
Foi aí que resolveu pedir conselhos ao Pajé que era muito sábio e o médico da aldeia. O Pajé o escutou com calma e lhe deu um conselho:
− Cacique, só tem uma forma de decidir: faça um torneio de arco e flecha. A índia que conseguir atirar a flecha mais longe é essa que Tupã escolheu para sua esposa.
O Cacique pensou um bocado e viu que o Pajé tinha razão. Mas achou que como Uirapuru era mais ativa que Juçara, seria ela a vencedora. Ficou até satisfeito pois todos que chegavam perto de Uirapuru ficavam felizes. Mas e Juçara? O que seria dela? E o que seria dele vendo-a ali todos os dias sabendo que nunca seria sua esposa e pior, tendo que vê-la casar-se com outro... Ah, seu coração não ia aguentar. Foi aí que perguntou ao Cacique:
− E o que acontecerá com a índia que perder a prova? As duas gostam de mim e quando eu casar com a vencedora a que perder a prova ficará muito triste...E para falar a verdade, eu também vou ficar muito triste, pois gosto das duas...
− Por isso é que aconselho que quem perder a prova deverá ir embora da aldeia. Assim o coração do Cacique se aquietará, a cabeça a esquecerá e não haverá desarmonia em sua oca.

O Cacique concordou. Quando voltou para a aldeia chamou as duas pretendentes e, na presença dos  pais delas explicou:
− Preciso me casar e até agora não o fiz porque tenho muita dúvida sobre qual de vocês devo escolher para minha esposa, pois gosto muito das duas. Cada uma de vocês tem uma natureza é como se uma completasse a outra. Como não posso ter duas esposas, fui pedir conselho ao Pajé e ele me aconselhou fazer um torneio de arco e flecha. A vencedora será a esposa que Tupã escolheu para mim. Mas quem perder o torneio deverá ir embora da aldeia para sempre.

O torneio foi marcado para a próxima lua cheia. As duas índias treinaram bastante, pois nenhuma das duas queria perder o torneio.
Quando chegou a véspera da lua cheia, o cacique falou:
− Amanhã pela manhã acontecerá o torneio. Convido os dois melhores guerreiros para serem os ajudantes do Pajé nesse julgamento.
O dia amanheceu muito bonito. Parecia que a floresta estava em festa. Estava bem claro que seria um dia especial. Depois da primeira refeição do dia, todos se prepararam para o torneio.
Todos os índios e índias ficaram em fila formando um corredor bem largo. Podia-se dizer que de um lado estavam os torcedores de Uirapuru e do outro os torcedores de Juçara, mas não foi assim, pois nem mesmos o povo da aldeia sabia para quem torcer. As duas índias eram muito queridas. Só tinham mesmo era que ficarem em silêncio e acompanhar a disputa.
As duas índias chegaram com seus arcos e flechas e se posicionaram no centro do início do corredor de frente para o Pajé, o Cacique e os dois guerreiros. Ao sinal do Pajé, Uirapuru lançou sua flecha que voou rápida e certeira para o tronco de uma árvore distante.
Depois de Uirapuru o Pajé fez o sinal para Juçara. Ela também lançou sua flecha que voou rápida e passou pela árvore onde estava a flecha de Uirapuru e foi adiante e se perdeu na mata.
Estava determinado por Tupã quem deveria ser a esposa do Cacique. Uirapuru apanhou suas coisas e foi embora da aldeia para o sub-bosque da floresta amazônica, a mata mais baixa. Ao chegar lá começou a chorar. Chorou tanto que suas lágrimas criaram um ribeirão. 


Quando Tupã viu a tristeza da índia desceu até a mata para conversar com ela.


                                                                                                                     
− Uirapuru, o Cacique não poderia casar com vocês duas; haveria muita discórdia na casa e vocês seriam muito infelizes e com certeza toda a tribo seria infeliz também. Além do mais, a mulher do cacique tem que ter uma vida mais de dentro da aldeia e você gosta de caminhar na floresta ir tomar banho no rio... Você não seria feliz assim.
Uirapuru então pediu a Tupã que a deixasse ir até a aldeia sem que ninguém a percebesse. Para satisfazer sua vontade, Tupã a transformou em um pequeno pássaro de plumagem pardo-avermelhada, laranja com umas pequenas pintinhas semelhantes à pintura que ela costumava fazer em sua pele. Assim transformada Uirapuru voou rápida para a aldeia. Chegando lá viu que seu amado Cacique estava feliz. Seu coração ficou feliz em vê-lo assim. Retornou para a floresta e pediu a Tupã que a mantivesse assim, pois ela ficou feliz em ver o cacique e sua esposa felizes.
Tupã ficou impressionado com o amor da índia. Assim, decidiu não apenas atendê-la em seu pedido de continuar pássaro, mas também lhe concedeu um canto mavioso, longo e melodioso parecido com uma flauta.
Todas as manhãs ao acordar, Uirapuru canta saudando o dia, lembrando-se do torneio que aconteceu na manhã da lua cheia e pede a Tupã que seu amado e sua família sejam felizes.
Por isso dizem que quem escuta seu canto será sempre muito feliz.

domingo, 19 de agosto de 2012

O UIRAPURU






Já escutei músicas que falam desse pássaro maravilhoso que ao cantar a floresta silencia... 

Ansiosa por saber mais sobre esse pássaro que faz parte da cultura popular brasileira fiz uma pesquisa no Google. Para minha sorte encontrei no Youtube uma gravação do seu canto[1] e também uma reportagem feita pela rede Globo de televisão[2] onde os repórteres foram até a floresta amazônica a sua busca.

O Uirapuru é um pássaro de penas 12 centímetros, de plumas cor vermelho telha que quando canta a floresta silencia.   
A lenda do Uirapuru é a lenda de um pássaro especial, pois dizem que ele é mágico, quem o encontra pode ter um desejo realizado.
O Uirapuru é um símbolo de felicidade.

Seu canto é semelhante a notas de uma flauta. Ele habita o sub-bosque da floresta, conhecida como a mata mais baixa. Vive caçando insetos nas áreas sombreadas e úmidas.
Ele é rápido, não para de cantar e procura se esconder.
Diz a lenda que quem houve o canto desse pássaro tem felicidade para o resto da vida. Segundo o repórter, ao escutar o pássaro, a sensação que teve foi de paz, harmonia e equilíbrio. Ele disse que é tão belo o canto que ficou arrepiado.
Também eu ao escutar o canto, mesmo vindo de uma gravação reproduzida no microfone do computador, senti paz... O canto realmente lembra as notas de uma flauta, mas é recarregado de magia. As estrofes são variadas e o Uirapuru que foi filmado pelos repórteres, apresentou quatro cantos diferentes.
O repórter disse que esse pássaro é chamado de músico da mata e que conta a lenda que quando ele canta todos os outros pássaros silenciam. Curiosamente naquele dia, enquanto os repórteres faziam a filmagem desse pequeno pássaro e a gravação de seu cantar, não se ouviu na floresta nenhum outro canto de pássaro.

Fiquei sabendo de duas lendas sobre ele:

Em uma tribo da floresta amazônica, havia duas índias apaixonadas pelo mesmo cacique.
O cacique gostava das duas índias e para solucionar o problema ele propôs um torneio de arco e flecha: A índia que atirasse a flecha mais distante possível se casaria com ele e a que perdesse iria embora para bem longe da aldeia.
Quando a disputa terminou, a índia que perdeu a prova foi-se embora e ao ficar longe começou a chorar. Chorou tanto que suas lágrimas formaram um ribeirão.
O deus Tupã, ao ver o sofrimento da índia a transformou em um pássaro, para que ela pudesse visitar o amado sem prejudicar o casamento dele.
E assim foi: a índia transformada em pássaro foi visitar o amado, mas ao chegar na aldeia percebeu que ele estava muito feliz com a esposa. Diante disso decidiu voltar para a floresta e morar entre suas flores. Nunca mais voltaria à aldeia para ver seu amado.
Para compensá-la pelo amor não correspondido, Tupã lhe deu um canto tão lindo que faz as outras aves silenciarem para que todos ouçam a bela melodia e os apaixonados possam sonhar. 

Já a segunda lenda não diz respeito a duas índias que se apaixonam pelo mesmo cacique, mas a de um índio que se apaixona pela mulher do cacique. Vejamos:

         Um jovem índio guerreiro apaixonou-se pela esposa de um cacique. Esta também se namorara dele, porém, era um amor proibido. 
O Jovem guerreiro sofria muito, pois amava, era correspondido, mas ambos não podiam viver esse amor, pois poderiam ser mortos se alguém da tribo descobrisse. 
Com o tempo a bela esposa do cacique, foi esquecendo seu amor pelo jovem guerreiro.
Porém, esse sofria toda vez que a via. 
Um dia o jovem índio amanheceu muito doente, com uma forte febre. Ninguém, nem o pajé sabiam o que ele tinha. O jovem índio sentia que estava doente de amor. 
Não aguentando mais tanto sofrimento, pediu ao deus Tupã, que o transformasse em um pássaro, assim poderia ficar bem perto da amada sem oferecer perigo para os dois. 
Tupã transformou-o em um pássaro vermelho telha, que possuía um magnifico canto. O jovem guerreiro, agora transformado em pássaro, cantava todas as noites para a amada. 

Porém, quem notou o seu belo canto foi o cacique, que tentando aprisioná-lo numa gaiola, correu para capturá-lo e acabou perdendo-se na floresta.
Ao Uirapuru restou o sonho de que a sua amada um dia descobrisse que ele era o jovem guerreiro e assim quebrasse o encanto para que voltasse a ser humano. 

       O Uirapuru é considerado um pássaro que traz boa sorte, um ser mágico. Quem o encontra pode fazer um pedido que se tornará realidade. 
Os nativos da floresta relatam que quando o Uirapuru canta, toda a floresta fica em silêncio rendendo-lhe homenagem.