A Lenda do Uirapuru
(Por Regina Maria Oliveira de Macedo)
Em
uma tribo da Floresta Amazônica houve um cacique muito bonito que ainda estava
solteiro. Acontecia que ele não tinha certeza com quem deveria casar. Ele
gostava de duas índias muito bonitas uma se chamava Uirapuru a outra nunca
soube como se chamava talvez se chamasse Jacira, ou Juçara. Vou chamá-la de
Juçara...
Uirapuru
era uma jovem alegre, afetuosa, otimista, criativa e muito comunicativa. Onde
ela estava todos ficavam alegres e por isso mesmo todos gostavam muito dela. Ela
também gostava muito de cantar e sempre que tinha alguma festa na aldeia ela
cantava para alegrar a todos. Sua voz era muito bonita.
Juçara
era mais calma, gostava de ficar junto das mulheres mais velhas, escutar suas
histórias tinha uma fome de conhecimento e por isso estava sempre fazendo perguntas e tentando entender as coisas que aconteciam à sua volta. Era também muito bonita, bondosa e muito caprichosa nas coisas que
fazia: colares, cerâmicas, comidas...
O
cacique observava as duas e via que em cada uma tinha algo que era muito
importante para a esposa de um cacique. Qualquer uma das duas o faria muito
feliz. Se pudesse escolher casaria com as duas pois uma completava a outra, mas
ele só poderia casar com uma e assim o tempo ia passando e ele continuava
solteiro e indeciso.
Foi
aí que resolveu pedir conselhos ao Pajé que era muito sábio e o médico da
aldeia. O Pajé o escutou com calma e lhe deu um conselho:
− Cacique, só tem uma forma de
decidir: faça um torneio de arco e flecha. A índia que conseguir atirar a
flecha mais longe é essa que Tupã escolheu para sua esposa.
O
Cacique pensou um bocado e viu que o Pajé tinha razão. Mas achou que como
Uirapuru era mais ativa que Juçara, seria ela a vencedora. Ficou até satisfeito
pois todos que chegavam perto de Uirapuru ficavam felizes. Mas e Juçara? O que
seria dela? E o que seria dele vendo-a ali todos os dias sabendo que nunca seria
sua esposa e pior, tendo que vê-la casar-se com outro... Ah, seu coração não ia
aguentar. Foi aí que perguntou ao Cacique:
− E o que acontecerá com a índia
que perder a prova? As duas gostam de mim e quando eu casar com a vencedora a
que perder a prova ficará muito triste...E para falar a verdade, eu também vou
ficar muito triste, pois gosto das duas...
− Por isso é que aconselho que
quem perder a prova deverá ir embora da aldeia. Assim o coração do Cacique se
aquietará, a cabeça a esquecerá e não haverá desarmonia em sua oca.
O
Cacique concordou. Quando voltou para a aldeia chamou as duas pretendentes e,
na presença dos pais delas explicou:
− Preciso me casar e até agora
não o fiz porque tenho muita dúvida sobre qual de vocês devo escolher para
minha esposa, pois gosto muito das duas. Cada uma de vocês tem uma natureza é
como se uma completasse a outra. Como não posso ter duas esposas, fui pedir
conselho ao Pajé e ele me aconselhou fazer um torneio de arco e flecha. A
vencedora será a esposa que Tupã escolheu para mim. Mas quem perder o torneio
deverá ir embora da aldeia para sempre.
O
torneio foi marcado para a próxima lua cheia. As duas índias treinaram
bastante, pois nenhuma das duas queria perder o torneio.
Quando
chegou a véspera da lua cheia, o cacique falou:
− Amanhã pela manhã acontecerá o
torneio. Convido os dois melhores guerreiros para serem os ajudantes do Pajé
nesse julgamento.
O dia
amanheceu muito bonito. Parecia que a floresta estava em festa. Estava bem
claro que seria um dia especial. Depois da primeira refeição do dia, todos se
prepararam para o torneio.
Todos
os índios e índias ficaram em fila formando um corredor bem largo. Podia-se
dizer que de um lado estavam os torcedores de Uirapuru e do outro os torcedores
de Juçara, mas não foi assim, pois nem mesmos o povo da aldeia sabia para quem
torcer. As duas índias eram muito queridas. Só tinham mesmo era que ficarem em
silêncio e acompanhar a disputa.
As
duas índias chegaram com seus arcos e flechas e se posicionaram no centro do
início do corredor de frente para o Pajé, o Cacique e os dois guerreiros. Ao
sinal do Pajé, Uirapuru lançou sua flecha que voou rápida e certeira para o
tronco de uma árvore distante.
Depois
de Uirapuru o Pajé fez o sinal para Juçara. Ela também lançou sua flecha que
voou rápida e passou pela árvore onde estava a flecha de Uirapuru e foi adiante
e se perdeu na mata.
Estava
determinado por Tupã quem deveria ser a esposa do Cacique. Uirapuru apanhou
suas coisas e foi embora da aldeia para o sub-bosque da floresta amazônica, a
mata mais baixa. Ao chegar lá começou a chorar. Chorou tanto que suas lágrimas
criaram um ribeirão.
Quando Tupã viu a tristeza da índia desceu até a mata para conversar com ela.
Quando Tupã viu a tristeza da índia desceu até a mata para conversar com ela.
− Uirapuru, o Cacique não
poderia casar com vocês duas; haveria muita discórdia na casa e vocês seriam muito infelizes e com certeza toda a tribo seria infeliz também. Além do mais,
a mulher do cacique tem que ter uma vida mais de dentro da aldeia e você gosta
de caminhar na floresta ir tomar banho no rio... Você não seria feliz assim.
Uirapuru
então pediu a Tupã que a deixasse ir até a aldeia sem que ninguém a percebesse. Para satisfazer sua vontade, Tupã a transformou em um pequeno pássaro de plumagem pardo-avermelhada, laranja com umas
pequenas pintinhas semelhantes à pintura que ela costumava fazer em sua pele.
Assim transformada Uirapuru voou rápida para a aldeia. Chegando lá viu que seu
amado Cacique estava feliz. Seu coração ficou feliz em vê-lo assim. Retornou
para a floresta e pediu a Tupã que a mantivesse assim, pois ela ficou feliz em
ver o cacique e sua esposa felizes.
Tupã ficou impressionado com o amor da índia. Assim, decidiu não apenas
atendê-la em seu pedido de continuar pássaro, mas também lhe concedeu um canto
mavioso, longo e melodioso parecido com uma flauta.
Todas as manhãs ao acordar, Uirapuru canta saudando o dia, lembrando-se
do torneio que aconteceu na manhã da lua cheia e pede a Tupã que seu amado e
sua família sejam felizes.
Por isso dizem que quem escuta seu canto será sempre muito feliz.
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