terça-feira, 21 de agosto de 2012

A LENDA DO UIRAPURU


A Lenda do Uirapuru
(Por Regina Maria Oliveira de Macedo)

Em uma tribo da Floresta Amazônica houve um cacique muito bonito que ainda estava solteiro. Acontecia que ele não tinha certeza com quem deveria casar. Ele gostava de duas índias muito bonitas uma se chamava Uirapuru a outra nunca soube como se chamava talvez se chamasse Jacira, ou Juçara. Vou chamá-la de Juçara...
Uirapuru era uma jovem alegre, afetuosa, otimista, criativa e muito comunicativa. Onde ela estava todos ficavam alegres e por isso mesmo todos gostavam muito dela. Ela também gostava muito de cantar e sempre que tinha alguma festa na aldeia ela cantava para alegrar a todos. Sua voz era muito bonita.
Juçara era mais calma, gostava de ficar junto das mulheres mais velhas, escutar suas histórias tinha uma fome de conhecimento e por isso estava sempre fazendo perguntas e tentando entender as coisas que aconteciam à sua volta. Era também muito bonita, bondosa e muito caprichosa nas coisas que fazia: colares, cerâmicas, comidas...
O cacique observava as duas e via que em cada uma tinha algo que era muito importante para a esposa de um cacique. Qualquer uma das duas o faria muito feliz. Se pudesse escolher casaria com as duas pois uma completava a outra, mas ele só poderia casar com uma e assim o tempo ia passando e ele continuava solteiro e indeciso.
Foi aí que resolveu pedir conselhos ao Pajé que era muito sábio e o médico da aldeia. O Pajé o escutou com calma e lhe deu um conselho:
− Cacique, só tem uma forma de decidir: faça um torneio de arco e flecha. A índia que conseguir atirar a flecha mais longe é essa que Tupã escolheu para sua esposa.
O Cacique pensou um bocado e viu que o Pajé tinha razão. Mas achou que como Uirapuru era mais ativa que Juçara, seria ela a vencedora. Ficou até satisfeito pois todos que chegavam perto de Uirapuru ficavam felizes. Mas e Juçara? O que seria dela? E o que seria dele vendo-a ali todos os dias sabendo que nunca seria sua esposa e pior, tendo que vê-la casar-se com outro... Ah, seu coração não ia aguentar. Foi aí que perguntou ao Cacique:
− E o que acontecerá com a índia que perder a prova? As duas gostam de mim e quando eu casar com a vencedora a que perder a prova ficará muito triste...E para falar a verdade, eu também vou ficar muito triste, pois gosto das duas...
− Por isso é que aconselho que quem perder a prova deverá ir embora da aldeia. Assim o coração do Cacique se aquietará, a cabeça a esquecerá e não haverá desarmonia em sua oca.

O Cacique concordou. Quando voltou para a aldeia chamou as duas pretendentes e, na presença dos  pais delas explicou:
− Preciso me casar e até agora não o fiz porque tenho muita dúvida sobre qual de vocês devo escolher para minha esposa, pois gosto muito das duas. Cada uma de vocês tem uma natureza é como se uma completasse a outra. Como não posso ter duas esposas, fui pedir conselho ao Pajé e ele me aconselhou fazer um torneio de arco e flecha. A vencedora será a esposa que Tupã escolheu para mim. Mas quem perder o torneio deverá ir embora da aldeia para sempre.

O torneio foi marcado para a próxima lua cheia. As duas índias treinaram bastante, pois nenhuma das duas queria perder o torneio.
Quando chegou a véspera da lua cheia, o cacique falou:
− Amanhã pela manhã acontecerá o torneio. Convido os dois melhores guerreiros para serem os ajudantes do Pajé nesse julgamento.
O dia amanheceu muito bonito. Parecia que a floresta estava em festa. Estava bem claro que seria um dia especial. Depois da primeira refeição do dia, todos se prepararam para o torneio.
Todos os índios e índias ficaram em fila formando um corredor bem largo. Podia-se dizer que de um lado estavam os torcedores de Uirapuru e do outro os torcedores de Juçara, mas não foi assim, pois nem mesmos o povo da aldeia sabia para quem torcer. As duas índias eram muito queridas. Só tinham mesmo era que ficarem em silêncio e acompanhar a disputa.
As duas índias chegaram com seus arcos e flechas e se posicionaram no centro do início do corredor de frente para o Pajé, o Cacique e os dois guerreiros. Ao sinal do Pajé, Uirapuru lançou sua flecha que voou rápida e certeira para o tronco de uma árvore distante.
Depois de Uirapuru o Pajé fez o sinal para Juçara. Ela também lançou sua flecha que voou rápida e passou pela árvore onde estava a flecha de Uirapuru e foi adiante e se perdeu na mata.
Estava determinado por Tupã quem deveria ser a esposa do Cacique. Uirapuru apanhou suas coisas e foi embora da aldeia para o sub-bosque da floresta amazônica, a mata mais baixa. Ao chegar lá começou a chorar. Chorou tanto que suas lágrimas criaram um ribeirão. 


Quando Tupã viu a tristeza da índia desceu até a mata para conversar com ela.


                                                                                                                     
− Uirapuru, o Cacique não poderia casar com vocês duas; haveria muita discórdia na casa e vocês seriam muito infelizes e com certeza toda a tribo seria infeliz também. Além do mais, a mulher do cacique tem que ter uma vida mais de dentro da aldeia e você gosta de caminhar na floresta ir tomar banho no rio... Você não seria feliz assim.
Uirapuru então pediu a Tupã que a deixasse ir até a aldeia sem que ninguém a percebesse. Para satisfazer sua vontade, Tupã a transformou em um pequeno pássaro de plumagem pardo-avermelhada, laranja com umas pequenas pintinhas semelhantes à pintura que ela costumava fazer em sua pele. Assim transformada Uirapuru voou rápida para a aldeia. Chegando lá viu que seu amado Cacique estava feliz. Seu coração ficou feliz em vê-lo assim. Retornou para a floresta e pediu a Tupã que a mantivesse assim, pois ela ficou feliz em ver o cacique e sua esposa felizes.
Tupã ficou impressionado com o amor da índia. Assim, decidiu não apenas atendê-la em seu pedido de continuar pássaro, mas também lhe concedeu um canto mavioso, longo e melodioso parecido com uma flauta.
Todas as manhãs ao acordar, Uirapuru canta saudando o dia, lembrando-se do torneio que aconteceu na manhã da lua cheia e pede a Tupã que seu amado e sua família sejam felizes.
Por isso dizem que quem escuta seu canto será sempre muito feliz.

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