Por Regina Maria Oliveira de Macedo
Certa vez junto a um formigueiro, apareceu
uma cigarra cantora. Durante todo o verão ela ficou a tocar violão e a cantar lindas
canções.
Enquanto cantava, as formigas
passavam todo o dia carregando folhas, pequenas sementes, pedaços de doces e de
açúcar, pequenos pedaços de carne, flores pequeninas para encherem as tulhas
abastecendo o formigueiro, pois o inverno era longo e muito frio.
O trabalho das formigas era árduo,
mas elas sabiam que não podiam parar, pois quando o inverno chegasse não
poderiam mais sair do formigueiro para providenciar comida.
Enquanto cantava a cigarra não se
lembrou de construir uma casa e tão pouco se lembrou de guardou alguma comida
para quando o inverno chegasse. Para ela era fácil comer uma folhinha que
estava ao seu alcance na árvore onde subiu para cantar afinando a voz e apreciar
o trabalho das formigas.
O tempo passou e o inverno chegou. No
campo da cidade onde moravam a cigarra e a formiga o inverno era muito frio. Tão
frio que caia gelo do céu. Todas as plantas perdiam suas folhas, suas flores e
seus frutos e adormeciam até a primavera voltar. Elas deixavam expostas apenas
os galhos nus para que a luz do sol ajudasse na nutrição que iriam precisar
para trazerem de volta as folhas e as flores que se transformariam em frutos
com sementes que pudessem ser espalhadas e fazerem aparecer novas árvores.
A cigarra não encontrava mais nenhuma
folhinha para comer. Todas as plantas e toda a terra da cidade estavam cobertas
de gelo duro e frio e ela não tinha forças para quebrar o gelo e pegar alguma
folha seca que ficara sobre a terra.
Resultado, sem a casa que precisara
ter sido construída, sem o alimento que precisara ter sido guardado, a cigarra
ficou com fome e com muito frio. Vagava pela terra sem rumo e foi ficando cada
dia mais fraquinha e adoeceu.
Tossia muito e, cambaleante, chegou à
porta do formigueiro e bateu à porta. Foram suas últimas forças.
A formiga porteira escutou suas
batidas fraquinhas e abriu a porta. Viu a cigarra caída e se aproximou.
¾ O que você está fazendo aqui? ¾ Perguntou, examinando a triste
mendiga suja de lama e a tossir caída à porta.
A cigarra respondeu entre uma tosse e
outra:
¾ Venho em busca de agasalho. O mau tempo não cessa e
eu...
A formiga olhou a cigarra de alto a
baixo e perguntou:
¾ E o que você fez durante o verão?
¾ Bem, eu era cantora. Cantava o tempo todo para afinar
minha voz.
¾ Ah! ¾ Exclamou a formiga se lembrando. ¾ Era você então quem cantava nessa
árvore enquanto nós labutávamos para encher as tulhas com alimentos para o
inverno?
¾ Sim, era eu. ¾ Respondeu um pouco escabreada, a cigarra.
¾ Então entre, amiguinha! Nunca podemos esquecer-nos
das belas canções que nos animava a trabalhar e esquecer o cansaço do trabalho
árduo. Dizíamos sempre: que felicidade termos como vizinha tão gentil cantora! Entre,
amiga! Aqui você terá abrigo e alimento durante todo o inverno.
Mas a cigarra estava muito fraca para
caminhar. Como a cigarra não aguentava se levantar do chão, a formiga chamou as
amigas para ajudarem a carregar a cigarra para o formigueiro. Elas cuidaram bem
dela. Logo, logo a cigarra ficou forte. Voltou a ser alegre. Apanhou seu violão
e durante todo o inverno alegrou o formigueiro com suas músicas e canções.
Foi o melhor inverno que as formigas
tiveram.
FIM