Festa De São Pedro Internacional no Recoleta Hostel Buenos Aires –
Argentina
(Por Regina Maria Oliveira de Macedo)
No mês de junho de 2012,
mais precisamente na época das festas juninas, um grupo de professores do
Estado da Bahia viajou para Buenos Aires, Argentina para mais uma vez
participarem das aulas de mestrado em educação iniciadas em janeiro desse mesmo
ano.
Dessa vez era inverno e o
frio argentino para eles, acostumados a uma temperatura mínima de 20 graus, era imenso. Mesmo no início do curso quando a
mais baixa foi 18 graus.
Além do frio e da saudade
de casa, todos estavam um pouco chateados por terem perdido a festa de São
João.
São João é a maior festa
junina comemorada em todas as regiões do Brasil, mas na Região Nordeste, de
onde vinham esses professores, essa festa ganha uma grande expressão.
Para os Nordestinos o mês de junho é o momento
de se fazer homenagens aos três santos católicos: São João, São Pedro e Santo
Antônio. Como é uma região onde a seca é um problema grave, os nordestinos
aproveitam as festividades para agradecer pelas chuvas, mesmo que raras na
região, que servem ou serviram para manter a agricultura.
É uma época de festas muito alegre onde acontecem tanto
festas em praças públicas das cidades como também nas fazendas. Nas fazendas
então, ganham uma beleza única: os terreiros são enfeitados com bandeirolas, fogueiras
são acesas, há salões improvisados nos celeiros ou telheiros, decoração com
flores de papel e também manacá e até mesmo a cana de açúcar e pés de milho
servem para enfeitar o arraial.
Mesas são arrumadas com
fartura de comidas e bebidas, há músicos ou execução de músicas por discos
juninos em cd player ou em toca discos de vinil que resistiram ao tempo. Também
há fogos... Muitos fogos e folguedos, e danças
(Forró) e quadrilhas. As pessoas se visitam e muitos namoros se iniciam nessa
ocasião.
Bem, situando vocês
leitores nesse evento, voltemos ao nosso
grupo de professores tristonhos porque naquele ano não puderam participar de
nenhuma dessas festas. Em grupos comentavam a saudade e a alegria do São João.
Foi aí que Professora Cristina deu um basta naquela tristeza dizendo:
─ Sabem de uma coisa, vamos comemorar
o São Pedro!
Todos ficaram animados. A
princípio se pensou em cada um dar uma quantia em dinheiro e o grupo de
professores que estava na “habitación” 110 providenciaria a compra dos gêneros
e materiais indispensáveis à festa.
E assim foi iniciada a
organização dessa comemoração. Cristina, Adriana, se informaram sobre onde
podiam comprar amendoim, milho, aipim, leite de coco, leite condensado e outras
iguarias e gêneros necessários.
─” Vocês encontram essas coisas no
Bairro Chinês. Lá tem o Supermercado Chinês que vende tudo”. Disse a camareira
do Albergue onde o grupo estava hospedado.
Ficaram todos os
trabalhadores do albergue curiosos em saber o que era a festa de São Pedro.
Professora Cristina deu
as explicações necessárias com seus olhos brilhantes. Sua animação aumentava a
cada lembrança da festa durante a explicação. Daquele momento em diante o
projeto da festa só aumentou. O gerente
do hotel ficou curioso e diante da alegria de todos também foi contagiado e deu
o consentimento para a festa. A única imposição foi que a festa seria fechada e
só poderiam participar da festa o grupo de professores que estava hospedado no
hotel e também os outros hospedes. Afinal era norma do albergue não permitir a
permanência de pessoas que não fossem hospedes em suas dependências. Essa
medida era para garantir o conforto de todos e a segurança.
Permissão dada Professora
Cristina e Professora Adriana convidaram Professor Miguel e Profª.Regina e
juntos foram até o Bairro Chinês.
Foi a maior decepção: o
amendoim seco e caro. Não havia lá a maioria dos ingredientes e até mesmo o
leite de coco era quatro vezes o valor do Brasil. O grupo teve receio de
desagradar a todos com o valor alto que seria apresentado. E um deles,
aconselhou o cancelamento da festa.
Professora Cristina
protestou:
─ “Ah, não. Eu não comemorei Santo
Antônio e nem São João, estou morrendo
de frio nessa terra diferente da minha, com saudade de casa, vou comemorar sim”!
─ “Mas tudo está tão caro. Você não
acha mais prudente cancelar”? ─ Perguntou Profª. Adriana
com um ar e tom de aconselhamento.
─ Não. Sabe como agente faz? Como todo
mundo quando faz uma festa na escola. Cada um leva uma coisa. As festas juninas
são da amizade, são de compartilhamento. Quem quiser compartilhar o fará com
alegria no coração.
Ali mesmo fez-se um
levantamento rápido dos gêneros que já tinham e todos concordaram.
A ida ao Bairro Chinês
virou uma aventura de exploração. O grupo caminhava, observava a cidade, as
pessoas e seus corações estavam felizes: iriam comemorar o São Pedro.
Os outros professores não
estavam acreditando na festa. À véspera da data combinada, o grupo iniciou a
organização.
No intervalo do almoço Profª
Marleide providenciou os papéis de seda coloridos, cola, tesoura, barbante,
papel cartão amarelo e marrom, gliter coloridos e papel crepom. Foi o início da
animação dos outros colegas.
À noite, todos reunidos
na cozinha e no refeitório do Albergue, as conversas estavam voltadas para a
organização da festa. Profª. Cristina iniciou a preparação das carnes; Profª. Ilka,
Profª. Marleide, Profª Jeane e Profª
Regina se envolveram com a construção de Bandeirolas, de flores de papel e, de
coroas e faixas para o Rei do Amendoim e a Rainha do Milho. Profª Adriana se
juntou ao grupo e Profª. Regina foi em direção ao balcão da cozinha para
iniciar a preparação do bolo. Bateu à mão mesmo, pois nesse albergue não tinha
batedeira de bolos.
O Bolo preparado com
farinha de trigo e floco de milho para cuscuz, ovos manteiga, açúcar e
fermento. Professora Adriana lembrou dos grãos de Erva –doce. Profª Cristina
disse que tinha esse chá no quarto e após a mistura de todos os ingredientes ,
foi colocado a assar.
Quando o cheiro do bolo
invadiu o espaço, a gota d’água para a animação caiu. Começou um entra e sai de
jovens professores e professoras, estudantes e todos os brasileiros
hospedados, se envolveram no processo .
Outros hospedes de outros países latinos também se aproximaram e acabaram por
se interessar em saber como era a festa, sua origem, o tipo de música e as
danças. Professora Cristina dava as explicações e também exemplificava com as
danças e músicas cantadas por seus colegas. O espírito junino invadiu o lugar e
a arquitetura de casarão antigo contribuiu para que todos se sentissem como se
estivessem em uma fazenda preparando a festa de São João. Só que não era São
João e sim São Pedro.
No dia seguinte a
animação continuou a partir do café da manhã. Todos foram para a faculdade e no
intervalo para o almoço Profº. Miguel arranjou amendoim e ajudou a orientar
outros hospedes a adquirir iguarias para a festa: Laranja, bolos, licores e a
animação foi crescendo cada vez mais.
O preparo dos alimentos voltou a
acontecer nesse intervalo e foi preciso lembrar a Profª. Cristina que ela
precisava retornar à faculdade, pois empolgada na preparação quase que ficava
na cozinha.
Dentre os hospedes apareceu um ator:
Profº. João, que se propôs apresentar Calhamberto. Uma sátira do cantor
brasileiro Roberto Carlos. Num instante apareceu um amplificador, e microfone.
Os preparos continuaram à tarde e
avançou até o início da noite. Profª. Cristina, Profª Adriana, Profº. Miguel e
Profª Regina ficaram encarregados da cozinha e os outros, tendo à frente Profª.
Ilka, Profª. Marleide, Profª. Juciara, Profª Jane e Profª. Delma cuidaram de
terminar a decoração do salão e arrumação das mesas para as comidas. Profª.
Ilka com sua criatividade fez toalhas de mesa lindas com papel de seda cortados
em forma de bandeirolas. Tudo ficou muito lindo e aconchegante. A comida foi
farta e gostosa. O cheiro do Brasil tomou conta do lugar.
Depois de tudo arrumado todos
trataram de ir para seus quartos se arrumarem para a festa e, embora ninguém
houvesse pensado em roupas juninas, todos vestiram roupas coloridas e ao som
das músicas juninas executadas no cd player foram chegando para o salão e
dançando.
Para abrir a festa oficialmente, Profª.
Cristina anunciou a chegada do Rei do Amendoim e da Rainha do Milho (Profº.
Miguel e Profª. Jane) que desceram as escadas do Hostel Recoleta sob os
calorosos aplausos dos presentes. Após o aplauso aos monarcas ela mesma comandou
a quadrilha e até um hospede com Paralisia Cerebral teve sua cadeira de rodas
empurrada por Profª. Adriana e dançou quadrilha também.
Após a quadrilha foi anunciado o show
de Calhamberto. Profº. João adentrou ao salão caracterizado de Roberto Carlos e
iniciou seu discurso de abertura. Em seguida, usando as músicas de Roberto
Carlos, introduziu seu número satírico. Todos sorriram muito. O Rei do Amendoim
e a Rainha do Milho se posicionaram ladeando Calhamberto e fizeram uma coreografia
ao som de suas canções. A alegria foi geral.
Todos comeram com fartura e elogiaram
muito a comida. Beberam vinho quente, Quentão, licores e refrigerantes, mas com
moderação. A festa rolou quase a noite inteira e iria até o amanhecer se no dia
seguinte não tivessem todos que ir para a faculdade.
E para tudo registrar, Profª. Regina tirou
fotos e filmou o movimento. Profº Daniel publicou fotos que tirou na internet e ficou de publicar os filmes e fotos feitos
por Profª. Regina também.
No final todos limparam o salão. Ao
amanhecer tudo estava em ordem.
Acho que São Pedro nunca esquecerá dessa alegria. E
com certeza, quando Professora Cristina ficar bem velhinha e for ao encontro do
criador, ao bater à porta do céu ele a receberá com um grande abraço que
guardou por muitos anos em seu coração à sua espera.
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