quinta-feira, 23 de agosto de 2018



Festa De São Pedro Internacional no Recoleta Hostel Buenos Aires – Argentina

(Por Regina Maria Oliveira de Macedo)

No mês de junho de 2012, mais precisamente na época das festas juninas, um grupo de professores do Estado da Bahia viajou para Buenos Aires, Argentina para mais uma vez participarem das aulas de mestrado em educação iniciadas em janeiro desse mesmo ano.
Dessa vez era inverno e o frio argentino para eles, acostumados a uma temperatura mínima de 20 graus,  era imenso. Mesmo no início do curso quando a mais baixa foi 18 graus.
Além do frio e da saudade de casa, todos estavam um pouco chateados por terem perdido a festa de São João.
São João é a maior festa junina comemorada em todas as regiões do Brasil, mas na Região Nordeste, de onde vinham esses professores, essa festa ganha uma grande expressão.
 Para os Nordestinos o mês de junho é o momento de se fazer homenagens aos três santos católicos: São João, São Pedro e Santo Antônio. Como é uma região onde a seca é um problema grave, os nordestinos aproveitam as festividades para agradecer pelas chuvas, mesmo que raras na região, que servem ou serviram para manter a agricultura.
É uma época de  festas muito alegre onde acontecem tanto festas em praças públicas das cidades como também nas fazendas. Nas fazendas então, ganham uma beleza única: os terreiros são enfeitados com bandeirolas, fogueiras são acesas, há salões improvisados nos celeiros ou telheiros, decoração com flores de papel e também manacá e até mesmo a cana de açúcar e pés de milho servem para enfeitar o arraial.
Mesas são arrumadas com fartura de comidas e bebidas, há músicos ou execução de músicas por discos juninos em cd player ou em toca discos de vinil que resistiram ao tempo. Também há fogos...  Muitos fogos e folguedos, e danças (Forró) e quadrilhas. As pessoas se visitam e muitos namoros se iniciam nessa ocasião.
Bem, situando vocês leitores nesse evento,  voltemos ao nosso grupo de professores tristonhos porque naquele ano não puderam participar de nenhuma dessas festas. Em grupos comentavam a saudade e a alegria do São João. Foi aí que Professora Cristina deu um basta naquela tristeza dizendo:
Sabem de uma coisa, vamos comemorar o São Pedro!
Todos ficaram animados. A princípio se pensou em cada um dar uma quantia em dinheiro e o grupo de professores que estava na “habitación” 110 providenciaria a compra dos gêneros e materiais indispensáveis à festa.
E assim foi iniciada a organização dessa comemoração. Cristina, Adriana, se informaram sobre onde podiam comprar amendoim, milho, aipim, leite de coco, leite condensado e outras iguarias e gêneros necessários.
─” Vocês encontram essas coisas no Bairro Chinês. Lá tem o Supermercado Chinês que vende tudo”. Disse a camareira do Albergue onde o grupo estava hospedado.
Ficaram todos os trabalhadores do albergue curiosos em saber o que era a festa de São Pedro.
Professora Cristina deu as explicações necessárias com seus olhos brilhantes. Sua animação aumentava a cada lembrança da festa durante a explicação. Daquele momento em diante o projeto da festa só aumentou.  O gerente do hotel ficou curioso e diante da alegria de todos também foi contagiado e deu o consentimento para a festa. A única imposição foi que a festa seria fechada e só poderiam participar da festa o grupo de professores que estava hospedado no hotel e também os outros hospedes. Afinal era norma do albergue não permitir a permanência de pessoas que não fossem hospedes em suas dependências. Essa medida era para garantir o conforto de todos e a segurança.
Permissão dada Professora Cristina e Professora Adriana convidaram Professor Miguel e Profª.Regina e juntos foram até o Bairro Chinês.
Foi a maior decepção: o amendoim seco e caro. Não havia lá a maioria dos ingredientes e até mesmo o leite de coco era quatro vezes o valor do Brasil. O grupo teve receio de desagradar a todos com o valor alto que seria apresentado. E um deles, aconselhou o cancelamento da festa.
Professora Cristina protestou:
“Ah, não. Eu não comemorei Santo Antônio e nem São João,  estou morrendo de frio nessa terra diferente da minha, com saudade de casa, vou comemorar sim”!
“Mas tudo está tão caro. Você não acha mais prudente cancelar”? Perguntou Profª. Adriana  com um ar e tom de aconselhamento.
Não. Sabe como agente faz? Como todo mundo quando faz uma festa na escola. Cada um leva uma coisa. As festas juninas são da amizade, são de compartilhamento. Quem quiser compartilhar o fará com alegria no coração.
Ali mesmo fez-se um levantamento rápido dos gêneros que já tinham e todos concordaram.
A ida ao Bairro Chinês virou uma aventura de exploração. O grupo caminhava, observava a cidade, as pessoas e seus corações estavam felizes:  iriam comemorar o São Pedro.
Os outros professores não estavam acreditando na festa. À véspera da data combinada, o grupo iniciou a organização.
No intervalo do almoço Profª Marleide providenciou os papéis de seda coloridos, cola, tesoura, barbante, papel cartão amarelo e marrom, gliter coloridos e papel crepom. Foi o início da animação dos outros colegas.
À noite, todos reunidos na cozinha e no refeitório do Albergue, as conversas estavam voltadas para a organização da festa. Profª. Cristina iniciou a preparação das carnes; Profª. Ilka, Profª.  Marleide, Profª Jeane e Profª Regina se envolveram com a construção de Bandeirolas, de flores de papel e, de coroas e faixas para o Rei do Amendoim e a Rainha do Milho. Profª Adriana se juntou ao grupo e Profª. Regina foi em direção ao balcão da cozinha para iniciar a preparação do bolo. Bateu à mão mesmo, pois nesse albergue não tinha batedeira de bolos.
O Bolo preparado com farinha de trigo e floco de milho para cuscuz, ovos manteiga, açúcar e fermento. Professora Adriana lembrou dos grãos de Erva –doce. Profª Cristina disse que tinha esse chá no quarto e após a mistura de todos os ingredientes , foi colocado a assar.
Quando o cheiro do bolo invadiu o espaço, a gota d’água para a animação caiu. Começou um entra e sai de jovens professores e professoras, estudantes e todos os brasileiros hospedados,  se envolveram no processo . Outros hospedes de outros países latinos também se aproximaram e acabaram por se interessar em saber como era a festa, sua origem, o tipo de música e as danças. Professora Cristina dava as explicações e também exemplificava com as danças e músicas cantadas por seus colegas. O espírito junino invadiu o lugar e a arquitetura de casarão antigo contribuiu para que todos se sentissem como se estivessem em uma fazenda preparando a festa de São João. Só que não era São João e sim São Pedro.
No dia seguinte a animação continuou a partir do café da manhã. Todos foram para a faculdade e no intervalo para o almoço Profº. Miguel arranjou amendoim e ajudou a orientar outros hospedes a adquirir iguarias para a festa: Laranja, bolos, licores e a animação foi crescendo cada vez mais.
O preparo dos alimentos voltou a acontecer nesse intervalo e foi preciso lembrar a Profª. Cristina que ela precisava retornar à faculdade, pois empolgada na preparação quase que ficava na cozinha.
Dentre os hospedes apareceu um ator: Profº. João, que se propôs apresentar Calhamberto. Uma sátira do cantor brasileiro Roberto Carlos. Num instante apareceu um amplificador, e microfone.
Os preparos continuaram à tarde e avançou até o início da noite. Profª. Cristina, Profª Adriana, Profº. Miguel e Profª Regina ficaram encarregados da cozinha e os outros, tendo à frente Profª. Ilka, Profª. Marleide, Profª. Juciara, Profª Jane e Profª. Delma cuidaram de terminar a decoração do salão e arrumação das mesas para as comidas. Profª. Ilka com sua criatividade fez toalhas de mesa lindas com papel de seda cortados em forma de bandeirolas. Tudo ficou muito lindo e aconchegante. A comida foi farta e gostosa. O cheiro do Brasil tomou conta do lugar.
Depois de tudo arrumado todos trataram de ir para seus quartos se arrumarem para a festa e, embora ninguém houvesse pensado em roupas juninas, todos vestiram roupas coloridas e ao som das músicas juninas executadas no cd player foram chegando para o salão e dançando.
Para abrir a festa oficialmente, Profª. Cristina anunciou a chegada do Rei do Amendoim e da Rainha do Milho (Profº. Miguel e Profª. Jane) que desceram as escadas do Hostel Recoleta sob os calorosos aplausos dos presentes. Após o aplauso aos monarcas ela mesma comandou a quadrilha e até um hospede com Paralisia Cerebral teve sua cadeira de rodas empurrada por Profª. Adriana e dançou quadrilha também.
Após a quadrilha foi anunciado o show de Calhamberto. Profº. João adentrou ao salão caracterizado de Roberto Carlos e iniciou seu discurso de abertura. Em seguida, usando as músicas de Roberto Carlos, introduziu seu número satírico. Todos sorriram muito. O Rei do Amendoim e a Rainha do Milho se posicionaram ladeando Calhamberto e fizeram uma coreografia ao som de suas canções. A alegria foi geral.
Todos comeram com fartura e elogiaram muito a comida. Beberam vinho quente, Quentão, licores e refrigerantes, mas com moderação. A festa rolou quase a noite inteira e iria até o amanhecer se no dia seguinte não tivessem todos que ir para a faculdade.
 E para tudo registrar, Profª. Regina tirou fotos e filmou o movimento. Profº Daniel publicou fotos que tirou na internet e  ficou de publicar os filmes e fotos feitos por Profª. Regina também.
No final todos limparam o salão. Ao amanhecer tudo estava em ordem.
Acho que  São Pedro nunca esquecerá dessa alegria. E com certeza, quando Professora Cristina ficar bem velhinha e for ao encontro do criador, ao bater à porta do céu ele a receberá com um grande abraço que guardou por muitos anos em seu coração à sua espera.


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