sábado, 17 de março de 2012

A ESCOLA TRISTONHA


A ESCOLA TRISTONHA

(Regina Maria Oliveira de Macedo)





Era um dia de sexta feira e nesse dia a professora Regina costumava contar histórias para as crianças. Muitas dessas histórias eram de sua própria autoria...

Como estava próximo ao dia 15 de março, ela resolveu contar uma história sobre escola. Começou assim...



Em uma colina muito bonita foi construída uma escola. Era a escola mais bonita que já se viu. A escola era tão bonita que quando chegava uma visita importante na cidade, o Prefeito lembrava-se de ir até lá mostrar ao visitante a obra que ele considerava mais importante do seu governo.



A escola tinha paredes muito bem construídas e uma pintura muito linda e alegre. Tinha imensos jardins bem planejados para as crianças olhar as flores e sentir seu perfume suave, tinha um parque de diversão com os brinquedos mais bonitos e maravilhosos para as brincadeiras mais divertidas: Escorregadores, gira-giras, gangorras, vai-e-vens, cavalinhos, tanques de areia bem branquinha e soltinha, pistas de corridas e carrinhos de pedal, Brinquedos para escaladas, castelos, casinhas de bonecas, mesa de atividades com água... Tantos brinquedos no parque que nenhuma criança ficaria sem se divertir. Imaginem, a escola tinha até tanques de areia e água com guarda sol!...



E a escola tinha refeitório, salas de aulas amplas e claras com janelas que davam para uma vista linda de um jardim... Nenhuma das salas eram quentes ou frias demais; todas tinham um frescor gostoso porque o arquiteto tinha projetado um telhado que dava entrada ao vento de forma que a ventilação ficasse deliciosa...



Ah, nas salas tinham carteiras e cadeiras coloridas e confortáveis que facilitavam o trabalho em gupo, em círculo, em fila, do jeito que se quisesse... Tinha lousa interativa no lugar de quadro de giz e os professores e professoras podiam ensinar às crianças brincando naquela enorme tela divertida...



Tinha também um sistema de som que tocava músicas calmas em cada uma das salas e as professoras podiam controlar o som da forma que melhor ajudasse na sua aula: ou silencioso, ou baixinho como se fosse um fundo musical para suas palavras, ou deixá-lo mais alto, mas nada que incomodasse ninguém.



E a escola tinha livros de histórias nas estantes coloridas que ficavam à altura das mãos das crianças, tinha teatro de fantoches e fantoches, tinha fantasias para peças de teatro, muitos lápis coloridos, papéis, cadernos, um cantinho de leitura muito gostoso onde as crianças ficavam da forma que quisessem, em fim, a escola tinha o que se pudesse pensar para acontecer aulas interessantes, alegres e eficientes. Mas a Escola vivia só suspirando... É que faltava alguma coisa na escola... O que será? O que será que faltava naquela escola?



Bem... Vamos pensar um pouco...



Bruno foi o primeiro a se manifestar:



— Ah, já sei! A escola não tinha computador! — Exclamou Bruno achando que havia descoberto o segredo que deixava a escola triste.

— hãn, hãn... A escola tinha os melhores computadores que você já viu, com acesso a internet e também uma "cdteca" com muitos jogos educativos. — Explicou a professora.



Islei, que gosta muito de cinema, que era um verdadeiro cinéfilo deu seu palpite:

— Eu sei. A escola não tinha cinema.

Mais ele errou também, pois a escola tinha um auditório maravilhoso com um palco que servia para exibir filmes e também fazer apresentações de teatro e as cadeiras do auditório eram maravilhosas e também tinha espaço para as crianças que precisavam ficar em cadeiras de rodas e até mesmo para as que precisavam ficar deitadas.



Samuel que gostava muito das aulas de natação arriscou:

— Eu já sei professora: A Escola não tinha piscina.

E a professora disse que a escola tinha piscina sim e tinha também um ginásio de esportes maravilhoso.



Bárbara arriscou:

— A Escola não tinha sala de música!

— Tinha sim, Bárbara... Eu já disse que a escola tinha tudo o que se possa imaginar para que os estudantes e professores pudessem participar de aulas maravilhosas e aprender com alegria. A escola tinha jardins, hortas, pomar e até mesmo animaizinhos como boi, cavalo, ovinos, aves... nossa! A Escola tinha tudo. Tinha diretor, professor, auxiliares administrativos, merendeiras, zeladoras e zeladores, porteiros, vigilantes...



— E a escola tinha refeitório?— Perguntou Lara achando que tinha descoberto a chave do mistério, mas a professora disse que sim, que a escola tinha tudo e continuou sua história...



Ninguém sabia dizer, mas a escola era tristonha. Vivia o tempo todo a suspirar... Por que será que tendo tudo, a escola era tristonha?



Faltava uma coisa muito importante... O que será de tão importante que está faltando para a escola ser feliz?



A diretora da escola caminhava pelos corredores, examinava as salas, os banheiros, os parques, a biblioteca, a "cdteca", a videoteca, o cinema, o ginásio de esportes, escutava as belas canções que saiam das caixas de som e não conseguia perceber o que estava faltando... E o pior, na comunidade que ficava perto da colina onde a escola foi construída, as pessoas já estavam chamando a escola de Museu Escola.



— MUSEU ESCOLA!!?? Ah, não! Disse a escola na sua linguagem de prédio escolar, mas ninguém escutou o seu espanto.



— Falta algo muito importante nessa escola... Mais o que será? — Perguntava-se a diretora intrigada. Foi aí que o telefone tocou. Quando a diretora atendeu era o Prefeito avisando que no dia 15 de março ele iria levar uma comitiva do Governo que viria conhecer a escola.

— Oh! Será um prazer excelência. A escola estará impecável!

E foi aí que o prefeito disse uma coisa:

— É claro que sua escola estará impecável, todo mundo na comunidade chama sua escola de Museu Escola.

— Como? — Indagou a diretora toda surpresa e o prefeito explicou:



— Sua escola é tão impecável que todos dizem que é uma escola apenas para ser mostrada. Uma escola amostra do que deve ter em uma escola, mas falta o principal. Nunca será uma escola sem esse principal. Diretora, o coração da sua escola não está batendo. O que está acontecendo? O que está faltando para sua escola ser uma escola? A senhora ainda não percebeu? Acorda, diretora!



(E aí crianças, o que está faltando na escola?)



Depois que desligou o telefone a diretora começou a pensar: Esta Escola tem bons recursos físicos... Tem bons recursos materiais de capital e de materiais de consumo... Tem bons recursos humannnooos... HUMANOS! Já sei! Já sei o que falta na escola para que ela seja A ESCOLA.



Saiu correndo em direção ao estúdio de rádio da escola, pegou o microfone e convocou todos os profissionais para uma reunião urgente.



— Atenção! Atenção! Todos os profissionais, reunião urgente na sala de AC. Aguardo todos vocês agora, nesse exato momento!



Quando todos chegaram à sala de AC,  sentaram-se à Távola Redonda (era assim que os professores chamavam aquela enorme mesa de reuniões). A Távola Redonda parecia uma enorme roda sem os aros. Os profissionais sentavam-se à sua volta e a diretora ia para o centro da roda para falar.

— Meus queridos colegas de trabalho. Cometemos um erro enorme.

— Um erro? Como assim? Que erro?

— Vocês não sentem que essa escola não é uma escola?

Todo mundo parou para pensar. Foi um silêncio enorme... A diretora aproveitou e perguntou:

— O que vocês estão escutando? Parem, prestem atenção; o que vocês estão escutando?

O silêncio era total. E a diretora explicou:

— Vocês estão escutando o nada... O silêncio... É isto que está faltando à nossa escola para que ela seja escola, vocês estão escutando a ausência do que falta à nossa escola para que ela seja escola e não um museu.

Os professores se assustaram e disseram cada um a sua vez e ao mesmo tempo, talvez?

— Está faltando o som das crianças! Meu Deus! Cadê as crianças?

E foi um tal de procurar as crianças, um tal de zum, zum, zum tão grande...! E foi aí que tudo se explicou e a diretora refletiu:



— Uma escola para ser Escola tem que ter estudantes! Tem que ter crianças! Tem que ter adolescentes! Tem que ter educandos... Onde estão os educandos? Por que não estão aqui?



E a diretora gemeu:



— Não estão aqui porque nos preocupamos tanto com arrumação, limpeza e tantas outras burocracias que nos esquecemos de fazer a MATRICULA! E agora? No dia 15 de março que é o dia da escola, virá uma comitiva do Governo nos visitar. Como receber essa comitiva sem a alma da escola? Sem os estudantes?



O Professor Ricardo deu a ideia de procurar o Radio da Comunidade para pedir ajuda. A diretora foi até lá, explicou que precisava chamar os pais para fazerem a matrícula das crianças. O locutor do rádio colocou o microfone à disposição da Diretora e naquele mesmo dia os pais foram à escola com suas crianças para fazerem a matrícula.

A Escola Tristonha já nem mais tinha forças para sorrir quando o primeiro pezinho de estudante pisou à grama do jardim. Ela sentiu um calorzinho voltando a seu corpo. As cores que estavam começando a desaparecer de suas paredes reacenderam e a Escola abriu os olhos e viu adentrar por seus portões os estudantes. Foi uma alegria!

Quando a comitiva do Governo chegou, a Escola Tristonha era a escola mais feliz e mais bonita do mundo, porque para ser realmente uma escola é preciso ter os estudantes.

— Os estudantes, Pró?

— É Carlinhos, os estudantes. Escola sem estudantes não é escola, pois a razão de haver professores e escola é porque tem alguém querendo aprender. E olhe, Crianças, estou falando de estudantes e não de baderneiros entenderam?

Nunca mais alguém se referiu à Escola como Museu Escola. Ela passou a ser chamada pelo seu verdadeiro nome: A Escola da Colina Feliz.








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