quinta-feira, 11 de julho de 2013

A FADA ORIANA - IX A RAINHA DAS FADAS

IX. A Rainha das Fadas

M
al chegou à beira do rio, Oriana chamou:
- Peixe, meu amigo, aqui estão as pérolas.
E o peixe trouxe do fundo do rio dez fios de prata e Oriana enfiou as pérolas e fez dez colares.
Enrolou um colar à volta do pescoço, enrolou um colar à volta de cada braço e entrelaçou em seus cabelos os outros sete colares. Depois debruçou-se nas águas. Era um dia de inverno muito luminoso e transparente. E Oriana viu seu reflexo mais claro e mais nítido do que nunca. E nunca se tinha achado tão bonita. O brilho redondo das pérolas rodeava o seu pescoço, refletia-se na sua pele, iluminava o seu cabelo.
- Nunca, nunca vi nada tão bonito! – exclamava ela.
- pareces a rainha do mar, a princesa da Lua, a deusa das pérolas – disse o peixe.
- Nunca mais me vou embora da margem do rio – disse Oriana. – Quero passar o resto da minha vida a olhar para mim.
Mas de repente Oriana calou-se. Porque ouviu no ar um silêncio. E nesse silêncio levantou-se uma voz, uma voz alta, direita e severa que chamou:
- Oriana!
Oriana estremeceu e voltou-se. Ao seu lado, no ar, estava a Rainha das Fadas.
E a voz alta, direita e severa tornou a falar:
- Oriana, o que é que estavas a fazer?
Oriana pálida respondeu:
- Estava a olhar para mim.
- E a tua promessa?
Oriana abaixou a cabeça e não respondeu.
- Oriana – disse a voz –, faltaste à tua promessa e abandonaste a floresta. Abandonaste os homens e os animais e as plantas. As crianças tiveram medo e tu não as consolaste, os pobres tiveram fome e tu não lhes deste comida, os pássaros caíram dos ninhos e tu não os apanhaste, o Poeta esperou por ti até às doze badaladas da meia noite e tu não apareceste. Abandonaste o lenhador, o moleiro, o Poeta. Por fim até abandonaste a velha. Não cumpriste a tua promessa. Durante uma Primavera, um Verão e um Outono passastes os dias e as noites debruçada sobre o rio, a ouvir os elogios de um peixe, apaixonada por ti. Por isso, Oriana, deixarás de ter asas e perderás a tua varinha de condão.
E, dizendo isto, a Rainha das Fadas fez, no ar, um gesto com a sua mão. E no mesmo instante, assim como as folhas das árvores no Outono caem dos ramos, assim Oriana viu as suas caírem dos seus ombros e ficarem de repente secas e mortas como dois papéis velhos. E o vento passou e levou-as pelo ar. Oriana correu atrás delas, mas já não podia voar e as asas desapareceram. E viu sua varinha de condão partir-se aos bocados e desfazer-se em poeira, que caiu no chão.
E Oriana quis apanhar a poeira, e ajoelhou-se no chão. Mas a poeira já estava misturada com a terra e as mãos de Oriana só conseguiram apanhar terra.
E a voz alta, direta e severa tornou a chamar:
- Oriana!
Oriana levantou-se e, com a cara coberta de lágrimas e as mãos cheias de terra, pediu à Rainha das Fadas:
- Dá-me outra vez as minhas asas! Dá-me outra vez a minha varinha de condão! Perdoa-me a minha vaidade. Eu sei que faltei a minha promessa, sei que abandonei os homens, os animais e as plantas da floresta. O peixe encheu-me de vaidade com seus elogios. Olhei tanto para mim que me esqueci de tudo. Mas dá-me outra vez as minhas asas. Eu quero voltar a ser como dantes. Quero voltar a ajudar os homens, os animais e as plantas. Mas sem varinha de condão e sem asas, eu não posso ser fada. Preciso da varinha de condão para poder ajudar os que precisam de mim.
Mas a voz alta, direita e severa da Rainha das fadas respondeu-lhe:
- Vai pela floresta fora e vê o mal que fizeste. Vê o que aconteceu aos homens, aos animais e às plantas que tu abandonaste. A olhar para ti esqueceste –te dos outros. Só tornarás a ter asas quando tiveres desfeito todo o mal que fizeste. Só tornarás a ter asas quando te esqueceres de ti a pensar nos outros.
E mal acabou de dizer estas palavras, a Rainha das Fadas desapareceu.
E Oriana ficou sozinha à beira do rio, com a cara cheia de lágrimas e as mãos cheias de terra.
E ajoelhou-se ao pé do rio para lavar as mãos. Mas quando viu na água a sua imagem sem as asas começou a soluçar e a dizer:
- Asas, asas ai minhas asas! Que feio que é uma fada sem asas! Que ridículo que é uma fada sem asas! Ninguém vai acreditar que sou uma fada. Vão julgar que sou só uma menina bonita, quero ser uma fada.
Oriana sentia-se muito triste e muito sozinha. Lembrou-se do peixe e pensou:
- Vou pedir ao peixe que me ajude. Ele é que teve culpa disto tudo.
E Pôs-se a chamar:
- Peixe, peixe, meu amigo!
Mas o peixe não apareceu.
Oriana tornou a chamar:
- Peixe, peixe, vem me consolar! Vem ver como estou triste, olha o que me aconteceu!
Mas o peixe não apareceu.
- Deve ter fugido para longe – pensou Oriana. – Vou esperar que ele volte.
E esperou, esperou sentada à beira do rio. Mas passaram muitas horas e o peixe não apareceu.
- Que mau amigo, – pensou Oriana – estou triste e ele não me vem consolar.
Então Oriana lembrou-se dos amigos antigos que ela tinha abandonado. E lembrou-se de que a Rainha das Fadas lhe dissera:
“Vai ver o que aconteceu aos homens, aos animais e às plantas que tu abandonaste”.

E, levantando-se, limpou as suas lágrimas e começou a percorrer a floresta.

Um comentário: