quinta-feira, 11 de julho de 2013

A FADA ORIANA - XIII. O ABISMO (ÚLTIMO CAPÍTULO)


XIII - O ABISMO - (ultimo capitulo)

Andou, andou, e quando ia já quase a meio caminho viu ao longe um vulto que vinha da cidade avançando ao seu encontro. Era um vulto escuro, todo curvado, que caminhava devagar, encostado a um pau. Oriana percebeu logo que era a velha. E pensou:
- Coitada da velha! Eu nunca mais a vim ajudar e ela, quase cega, anda sozinha por este caminho tão perigoso ao lado do abismo. De hoje em diante vou tornar a guiá-la todos os dias, como antigamente.
E apressou o passo para chegar mais depressa ao pé da sua amiga.
Mas de repente Oriana deu um grito. Porque viu a velha enganar-se na direção, e começar a caminhar para o abismo.
- Ai! – disse a fada – ela vai cair no abismo!
Gritou:
- Pára! Pára!
E começou a correr. Oriana estava muito longe da velha e a velha estava muito perto do abismo. Mas a velha andava muito devagar e Oriana corria muito depressa. Corria, corria. E gritava:
- Pára! Pára!
Mas a velha era surda e catracega e, sem ver nem ouvir, caminhava devagarinho.
- Se eu tivesse asas já lá estava! – pensava Oriana.
E corria, corria. A certa altura a velha parou para descansar. Estava a um passo do abismo. Oriana, a dez passos dela, pensou:
- Ainda chego a tempo!
Mas quando Oriana já estendia o seu braço para a agarrar a velha deu um passo em frente e caiu no abismo.
- Ai! - gritou Oriana.
E esquecendo-se de que não tinha asas, saltou no abismo, para salvar a velha.
Conseguiu apanhá-la pelas pernas e depois quis voar, mas não pôde. E lembrou-se de que não tinha asas.
- Ai de nós! – disse ela.
Viu debaixo de si o fundo abismo aberto como uma enorme boca que a ia devorar.
- Ai, ai, ai! – gritava a velha.
E caíam, caíam.
Mas de súbito, como um relâmpago, apareceu no ar a Rainha das Fadas. Estendendo o seu braço, ela tocou em Oriana com a sua varinha de condão.
E no mesmo instante Oriana parou de cair e ficou imóvel, suspensa no ar, segurando a velha.
E a voz alta e direita disse:
- Oriana, cumpriste hoje a tua promessa. Para salvar a velha, esquecendo-te de ti, saltaste no abismo. E o teu dó pela tua amiga foi tão grande que nem te lembraste de ter medo. Porque tu és a fada Oriana a quem foram entregues as plantas, os animais e os homens da floresta. E és tu que os guardas para que eles possam viver em paz. Quando tu os abandonaste, os animais fugiram para os montes, as flores secaram e os homens foram para a cidade, onde se perderam nas ruas cruzadas. Mas hoje tu cumpriste a tua promessa. Por isso eu ordeno que de novo nasçam duas asas nos teus ombros.
E dizendo isto, a Rainha das Fadas fez um gesto no ar com a mão direita.
E logo nos ombros de Oriana apareceram outras asas.
- Asas, asas, ai, minhas asas! - gritou Oriana, tremendo de alegria.
E dando-lhe a sua varinha de condão, a Rainha das Fadas disse-lhe:
- Toma esta varinha de condão e não esqueças nunca mais a tua promessa!
E mal acabou de falar, a Rainha das Fadas, como um relâmpago, desapareceu.
Então Oriana voou com a velha até ao caminho e, pousando-a no chão, guiou-a até à floresta.
Tonta de susto, a velha olhava à sua roda e dizia:
- Ai, parece que voltaram as fadas!
Mas Oriana já tinha desaparecido, pois, rápida como uma seta, voava para os montes.
Quando ali chegou, chamou o veado, o lobo, a raposa, o porco-espinho e os coelhos e pediu-lhes o filho do moleiro.
Os animais viram que ela era uma fada com asas e varinha de condão e entregaram-lhe a criança.
Oriana tomou-a nos braços e voou muito alto, por cima das nuvens, até à cidade.
E quando viu a rua onde morava agora o moleiro, desceu do ar e bateu à porta da casa. A porta abriu-se e apareceu a moleira, que deu um grito ao ver o seu filho ao colo de uma fada.
- Está aqui o teu filho que tinhas perdido – disse Oriana.
- Agora – disse a moleira – vejo que és uma fada. Amanhã voltaremos todos para a floresta.
E Oriana foi à prisão. Com a sua varinha de encantar adormeceu os guardas, abriu as grades e soltou o lenhador.
E nesse mesmo dia o lenhador, a mulher e o filho voltaram para a floresta.
E quando chegou a noite, Oriana entrou no café. O criado dormia, encostado ao balcão; os quatro homens conversavam de costas para a sala. Na mesa do fundo, pálido e sozinho, estava o Poeta.
Oriana atravessou o café, sem que ninguém a visse. Parou em frente do Poeta e tocou-lhe ao de leve na mão.
Ele levantou a cabeça e viu-a. Viu as suas asas e a sua varinha de condão. E viu que ela estava em pé no ar, sem que os seus pés tocassem no chão.
- Sou eu – disse ela.
- Agora vejo que és tu. Agora vejo que és uma fada. Obrigado, Oriana, porque tu voltaste.
Oriana deu-lhe a mão e, sem que ninguém os visse, saíram do café. Atravessaram a cidade e as suas ruas cruzadas com anúncios luminosos. Atravessaram as praças, as avenidas e os cais. E saíram da cidade.
Foram pelo caminho ao longo do abismo até à floresta. A lua cheia iluminava os montes e os campos.
Quando chegaram à floresta, o Poeta pediu:
- Oriana, encanta tudo.

E Oriana levantou a sua varinha de condão e tudo ficou encantado.

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